Com texto por Chico Buarque e direção de Antonio Pedro, o espetáculo contagia o público com seu nonsense


Crítica publica no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 16.12.1995

 

Barra

Montagem ‘trash’ para todas as idades

Há mais ou menos três anos, a atriz Vic Militello, dona de um acervo invejável de peças curtas, como A Ré Misteriosa e A Mão do Macaco, apresentada nos antigos circos, se juntou a um grupo de atores amigos não para inaugurar uma nova fase no teatro brasileiro, mas, sem dúvida nenhuma, no circuito Cult do Rio de Janeiro. Muito mais preocupada com a falta de público do que com a fundação do trash theatre, Vic defendia um teatro de repertório ultrarrotativo – uma peça diferente por semana – a preços muito baixos que a criasse no espectador o hábito de ir àquele teatro pelo simples prazer do evento. A nova estética ultrapassou o limite da brincadeira e, em sua primeira fase, arrebanhou um número considerável de público participante, o que fez do teatro da Praia um point para fãs do melhor do pior.

Com a saída de Vic Militello, o projeto continuou sob o comando de Anselmo Vasconcelos e Cláudia Borioni ainda por um bom tempo. São esses atores que, fiéis ao estilo, apresentam para o público infantil, no Teatro Barrashopping, Chapeuzinho Amarelo.

O texto de Chico Buarque – que conta a história deu uma menina que no dia do seu aniversário quase estraga, por conta do medo que sente de todas as coisas – é levado ao palco sob a direção de Antonio Pedro, totalmente em sintonia com a proposta do elenco. O caminho inverso seguido pelo diretor – onde o elenco dá o tom do espetáculo – resulta em uma encenação bem-humorada onde as performances de Anselmo Vasconcelos, Claudia Borioni, Andréa Dantas, Gilson Moura, Breno Moroni e Michaella Anne, vistas isoladamente, ou em conjunto, têm o grifo crítico, não só em relação aos personagens que representam, mas ao próprio teatro infantil de outras épocas. Tal sutileza talvez seja um pouco sofisticada demais tanto para crianças como para adultos. No geral, porém, o non-sense do espetáculo acaba contagiando a plateia.

Espremido num quase frente cortina do minúsculo palco, o elenco se diverte no cenário improvisado que representa o fundo de um quintal. Alguns adereços que despencam não atrapalham o andamento da encenação. Ao contrário, acrescentam um certo charme à performance do talentoso cast, exatamente como acontecia nos filmes de Ed Wood. As músicas, de Gabriel Moura, brincam com o proibido, do vocabulário muito particular das crianças. Temas como A Deusa da Meleca e outras situações do gênero têm endereço certo. A inusitada linguagem se salva brilhantemente de qualquer apelo de mau gosto. A montagem de Chapeuzinho Amarelo com certeza não está no palco para mudar os rumos do teatro infantil. Mas é um bom divertimento para fãs de trashs de qualquer idade.

Cotação: 2 estrelas (Bom)