Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 21.10.1978

Barra

Um chá sem graça 

Na coluna de sábado passado, comentei aqui a impressionante ausência de bons textos nessa temporada que está chegando ao fim, o que levou o júri do Prêmio Mambembe a não indicar qualquer autor na votação do segundo quadrimestre. Agora, que estamos vivendo o terceiro e último quadrimestre, a situação não se modificou. Se passarmos os olhos pelo “Rio-Show”, constataremos o fato com facilidade. Esse é um problema sério para os produtores mais bem intencionados que vivem procurando peças que tenham um mínimo de qualidade. Quando a produção é cuidadosa podemos chegar a resultados finais interessantes e que compensam a fragilidade dos textos. Os exemplos estão aí: Quem Matou o Leão de Maria Clara Machado e A Revolução dos Patos, de Walter Quaglia, são duas peças fracas, com muitos equívocos, mas que resultaram em espetáculos perfeitamente assistíveis. Entretanto, quando não há esse cuidado com a produção e quando o texto é ruim, a iniciativa se torna tola, ingênua, inútil. Esse é o caso de Chá das Bruxas, de Oscar Felipe, encenada no Teatro da Gávea, no quarto andar do Shopping Center.

A direção de Dino Romano é totalmente cúmplice com as bobagens escritas pelo autor, Oscar Felipe. O espetáculo não tem verdade, não tem ritmo, não tem graça, não tem charme. A encenação não diz nada, da mesma forma que o texto. O aspecto visual da montagem é tão descuidado que se chega ao ponto de colocar na bruxa que, pelo texto, é a mais feia, a máscara mais agradável de se ver. O cenário é uma mistura de elementos que não se harmonizam.

A maneira como o autor tira os personagens de cena mostra claramente o apelo para o recurso mais fácil. Em um momento, um personagem diz para os demais: “Bem, agora vocês vão indo porque eu já me enchi”. Outro exemplo de intensa atividade criativa por parte do autor: “Vão lá fora fazer hora no jardim”.

Outro aspecto tolo do texto (ou será da encenação?) é o seu instante digestivo-moralista. O Coelho faz uma pergunta o público infantil que de tão desanimado, responde bem baixinho. O Coelho retruca de modo bastante original: “Mas ninguém almoçou?”.

E por aí vai à bobagem deste Chá das Bruxas, que conta com um elenco visivelmente abandonado pelo diretor e que se vê perdido a todo instante. Salva-se um pouco o ator que faz o papel do Coelho: segura bem as cenas em que participa, tem pique e seu trabalho tem um tom de verdade que falta aos demais.

O fecho da peça também merece ser citado, caracterizando a falta de sentido das ações e o apelo popularesco da direção: “Agora, que vocês ficaram lindas, isso vai virar discoteca”. Em seguida, joga-se sobre o público as “Frenéticas” cantando o tema de Dancing Days. Tudo é sempre montado sobre o mais fácil.

No Rio de Janeiro dois teatros já se caracterizaram como pontos de mau teatro infantil: o Teatro de Bolso e o Teatro Brigite Blair. Geralmente quando se faz uma reportagem sobre teatro e os pais são entrevistados um deles sempre afirma que não leva seus filhos nesses dois teatros. Se o Teatro da Gávea não selecionar melhor seus espetáculos brevemente estará fazendo companhia aos teatros de Bolso e Brigite Blair. O que será lamentável: de uma dupla ruim, passaremos para um trio.