Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 05.05.2006
Espetáculo em que tudo dá certo
O Pequenino Grão de Areia é um musical infanto-juvenil, que volta ao palco, agora no Centro Cultural Telemar, depois de sua última montagem carioca, em 1987, sob a direção do próprio autor, João Falcão. A nova montagem resgata as músicas originais de autoria de João Falcão, em outros arranjos, com direção musical de Ricco Viana. Atores-cantores se revezam na pele de 20 personagens e formam o coro em todas as músicas muito bem executadas, ao vivo, por Ricco Viana e Rick de la Torre.
A história, baseada num conto popular, fala do surgimento da estrela-do-mar. Esta fábula que deu origem a uma famosa música do cancioneiro popular, que tinha o mesmo título da peça e fez sucesso na década de 50. É uma história sobre o amor, igualdade, diferenças e a possibilidade dos sonhos se transformarem em realidade.
Um grãozinho de areia da praia se apaixona por uma estrela no céu e é correspondido. Todos os personagens acreditam que essa paixão é impossível, mas o amor e a perseverança do grão são tão grandes que ele consegue que seu sonho se realize.
A partir dessa sabedoria popular, João Falcão cria um texto muito bem conduzido pelos diretores Marcelo Mello e Gisela de Castro. Uma encenação é feito de muitos pequenos acertos ou erros. O Pequenino Grão de Areia é um dos espetáculos mais agradáveis nesta difícil temporada do teatro infantil.
Um dos grandes trunfos é a direção, com equilíbrio a dupla de diretores consegue conduzir o espetáculo entre o lirismo e o humor, presentes, de modo sutil, tanto nos personagens – os grãos de areia – quanto nos elementos antropomorfizados, como a onda, que destrói castelos de areia.
O cenógrafo Sérgio Marimba se supera e encanta o público, que é literalmente envolvido pelo espaço onde a história transcorre – a praia, o mar.
Poucas vezes se tem visto uma integração tão grande entre luz – assinado por Renato Machado – e espaço cênico. Na cena do fundo do mar, cenário, luz e atores formam um todo tão coeso e forte que toda a plateia mergulha quase que literalmente até o fundo do mar, juntamente com o elenco. O veterano figurinista Mauro Leite expressa a similaridade que todos os grãos de areia têm sem deixar de imprimir a individualidade de cada um deles.
Quanto ao elenco, formado por André Arteche, Ari Guimas, Bárbara Borgga, Daniela Fontan, Gustavo Klein, Luana Martau, Marcos Nauer, Morena Cattoni e Rose Lima, o equilíbrio os torna, na verdade, um time onde é difícil de destacar este ou aquele ator com uma performance que se sobressaia. Todos estão bem. Atuam, se movimentam e cantam, amparados pela preparação corporal de Paulo Denizot, direção de movimento de Duda Maia e com o suporte sempre especial da preparação vocal de Agnes Moço.
E assim, sem nenhum mistério, mas com muita magia e trabalho, a partir de um bom texto, uma excelente direção e uma eficiente equipe de criação, essa produção cuidadosamente elaborada, traz uma valiosa contribuição à temporada de 2006.