Lasanha e Ravioli, os ‘clows’ de Monica Biel e Ana Barroso,fazem os papéis da história de Cinderela


Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 07.05.2004

 

 

 

 

Barra

A diversão do jogo do Teatro

Palhaços no bastidores de uma estreia

A Estreia de Lasanha e Ravioli é um quebra-cabeça de muitas peças que se encaixam com harmonia, criando uma unidade coesa. Ana Barroso e Monica Biel comemoram 14 anos de uma parceria que deu certo com o espetáculo, em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea.

Lasanha e Ravioli são dois clowns, personagens de outras peças das atrizes, que mostram ao público, com muito humor, os momentos que antecedem a estreia de Cinderela. No conto de fadas, os muitos personagens são interpretados pelos palhaços.

Os clowns revelam ao público o que acontece por trás do pano de boca, o “faz de conta”. As crianças entendem a proposta e mergulham nela, percebendo, com clareza, os mecanismos do fazer teatral. As atrizes assinam texto, direção, cenário e figurinos. Monica Biel, estreando como autora, domina bem a estrutura narrativa. Além disso, se mantém fiel à essência do conto tradicional, acrescentando à obra uma comicidade inteligente, refinada e crítica.

Mas, após o final feliz da história de Cinderela, os dois clowns retornam à cena. Passados muitos anos, estão outra vez no dia da estreia de nova história, ainda mambembando, com muitos anos de carreira, numa bem-humorada crítica ao ofício do ator. Este aparente recomeço altera a estrutura da narrativa e rompe a magia do final da história de Cinderela, que mantinha o público em suspenso. Um pequeno excesso, que sem dúvida pode ser corrigido.

Atrizes mostram a maturidade de uma parceria de 14 anos Ana Barroso e Monica Biel dominam totalmente a cena. Impossível desviar a atenção do que acontece no palco. Os personagens são construídos de forma refinada e precisa. Um achado o sotaque gaúcho da madrasta, o mineiro da fada e os problemas de dicção das irmãs. Concebidos com exatidão para cada um deles, marcam as diferentes composições com humor da melhor qualidade.

A direção do espetáculo, feita pelas próprias atrizes, é precisa e criativa, com excelentes soluções cênicas, como o surgimento e a saída da carruagem e o grand finale do casamento de Cinderela. Mais uma vez, a luz de Aurélio de Simoni surpreende. Usa o geralmente rejeitado black-out de forma tão adequada, que prova, mais uma vez, que, em teatro, tudo pode ser feito. Alterna momentos de suspense e suavidade com a surpresa, brincando também com a teatralidade. Desta vez, a luz tem uma parceria importante: a trilha de Alexandre Negreiros, em perfeita harmonia com o desenho de luz e a proposta da direção.

Os bonecos de Eduardo Andrade funcionam competentemente, em especial os pássaros, que costuram de modo criativo o vestido de baile de Cinderela. A linguagem de animação, no entanto, poderia ter sido melhor explorada. Bom o efeito das máscaras de Luciana Maia.

Os figurinos fazem uma crítica aos exageros das imagens dos contos de fadas, recontados pelas grandes produções. São divertidos e ajudam a compor com eficiência os personagens. O cenário tem a delicadeza e a neutralidade perfeita para receber a variedade de elementos em cena: bonecos de vários tamanhos e técnicas, transparências reveladoras dos bastidores, uma luz e uma trilha que também contam a história e duas atrizes que, sozinhas em cena, encantam a plateia, sem perder a precisão e o ritmo em nenhum momento. Depois dos premiados A História de Topetudo e Lasanha e Ravióli in Casa, este espetáculo revela o crescimento de um trabalho de muitos anos. Diverte os pequenos e emociona os adultos porque é puro teatro, feito com talento, competência e, com certeza, com muito trabalho.