Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 20.10.2017

Ao centro desta cena do musical ‘Castelo’, Roberto Rocha é Nino: interpretação colada à do ator que fez na série original. Foto: Caio Gallucci

Parte do elenco numeroso de ‘Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical’, em cartaz no Shopping Villa-Lobos. Foto: Caio Gallucci

Castelo mais famoso da TV segue rendendo frutos no teatro

Dois shoppings paulistanos abrigam em seus teatros espetáculos com os personagens do premiado ‘Castelo Rá Tim Bum’, sucesso dos anos 1990.

Dois ‘produtos’ teatrais derivados do grande sucesso infantil televisivo Castelo Rá Tim Bum estão em cartaz simultaneamente em São Paulo, neste finalzinho de segundo semestre de 2017 o que torna irresistível para um crítico comentar ambos no mesmo texto, ainda que cada espetáculo tenha suas peculiaridades: um, como o título já diz, é do gênero musical, Castelo Rá Tim Bum – O Musical, em cartaz no Shopping Villa-Lobos, uma produção de 4ACT Entretenimento, e o outro é um monólogo, Admirável Nino Novo, no Shopping Eldorado, de Velloni Produções.

Diga-se de pronto: são duas excelentes produções, vistosas, caprichadas, atentas a mil detalhes, preocupadas em levar qualidade ao teatro para crianças e jovens. A onda de saudosismo em torno dessa mundialmente premiada atração da televisão brasileira – originalmente exibida entre 1994 e 1997 – começou a partir de 2014, estimulada por uma grande exposição temática no MIS de São Paulo, para marcar os então 20 anos da estreia. De lá para cá, os tributos não param.

Diga-se de pronto, parte 2: Ambas as montagens usam tanto as canções conhecidas da trilha original, quanto novas músicas criadas especialmente para os espetáculos. E, em ambos os casos, é natural que se note na plateia uma enorme empolgação pelas músicas consagradas, e pouco entusiasmo pelas novidades inseridas pelos compositores Paulo Ocanha, no musical, e Dan Maia, no monólogo. Normal. Difícil concorrer com os sucessos retumbantes de Hélio Ziskind, André Abujamra, Maurício Pereira, Fernando Salem, Luiz Macedo, Arnaldo Antunes e Wandi Doratiotto, entre outros compositores da trilha da tevê.

No caso de O Castelo Rá Tim Bum – O Musical, todos os personagens do programa de TV (ou a grande maioria) estão na peça, o que parece mesmo confirmar a intenção de estimular o saudosismo, reviver um sucesso, priorizar o clima de tributos e homenagens. Mas isso me deixou a impressão, ao final de tudo, de que o extenso ‘desfile’ de personagens prejudica o ritmo e a dramaturgia assinada por Juliano Marceano. O fiapo de história não se sustenta e não se aprofunda, porque toda hora entra um personagem diferente com sua canção. A meu ver, escolhas deveriam ter sido feitas pela direção de Léo Rommano, pois, ao não valorizar ninguém, todos juntos perdem a força, igualam-se em um mero festival de revivals.

 

Sobre o elenco do musical, obviamente numeroso, eu gostaria de comentar o seguinte: em maior ou menor grau, todos os atores imprimem alguma personalidade própria a tipos tão conhecidos e já consagrados pelo elenco original – com exceção de Roberto Rocha, o Nino. Ele não interpreta ‘só’ o Nino, ou um ‘novo’ Nino, pois, antes, se preocupa em também interpretar o Cassio Scapin fazendo o Nino. Até o jeito de falar é de Cassio Scapin. O corpo, então, é todo trabalhado em espelhar o intérprete que consagrou o personagem. Homenagem? Reverência respeitosa de um ator a outro? Ok. Compreende-se, já que ambos os atores já tinham trabalhado juntos (Onde Está o Nino?, em 2008).

Sobre Admirável Nino Novo, título sonoro, parodiado do clássico livro de ficção Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, tenho a dizer que a dramaturgia de Maurício Guilherme, também diretor do espetáculo, carece de mais graça, mais humor, mesmo. O texto é bem eficiente na aventura, no estímulo ao aprendizado das coisas do mundo e dos fenômenos da natureza, o que combina muito com o personagem e fisga de cara as crianças mais afeitas a curiosidades, mistérios, charadas e adivinhações (digamos, os nerds como Nino).  Escolas devem ficar de olho e levar seus alunos, pois o “aproveitamento”, termo que educadores de hoje adoram, será muito eficiente e imediato. Mas falta diversão, a meu ver. Falta escracho, piada, deboche, riso frouxo, alegria. Pareceu-me uma peça levada a sério demais.

O diretor-dramaturgo, ressalve-se, foi sábio no uso do recurso de videomapping. Ainda que, na sessão em que estive, algumas imagens tenham surgido ‘estouradas’ demais e com baixa resolução, as projeções ajudam muito o ator Cassio Scapin, que sozinho tem de dar conta de palco tão enorme. Só saltitando de um lado para o outro, o que ele faz em boa parte da peça, Cassio se prejudicaria nos 60 minutos de duração, não fossem os usos inteligentes dos videocenários ou videografismos (André Grynwask e Pri Argoud). Auxílio para lá de luxuoso é a voz em off de ninguém menos do que Ney Matogrosso, no papel de um tal “Espírito de Aventura”. O tarimbado artista, como não poderia deixar de ser, gravou suas falas com muita propriedade, cadência e clareza.

Há um momento no espetáculo em que Nino (Cassio Scapin) pergunta à plateia o que diria seu tio Vítor (na TV, interpretado por Sérgio Mamberti). “Vocês sabem?” As crianças, na sessão em que estive, gritaram: “Não!” Toda criança da geração dos anos 90 sabia desse bordão: “Raios e trovões!!!”  Talvez seja melhor evitar que Cassio Scapin viva esse constrangimento a cada sessão, se é que isso não se deu só quando eu fui ver.  Fiz questão de contar isso aqui, pois esse episódio, na peça Admirável Nino Novo, escancarou para mim um detalhe inegável: tantos anos depois, já existe, sim, claro, uma galerinha que não está – nem nunca esteve – ligada no Castelo Rá Tim Bum. Pena. Que as duas peças sirvam, portanto, para atrair novos públicos mirins para essa pérola exemplar da história da teledramaturgia nacional. Pois os adultos das duas plateias, esses sim, continuam adorando, aplaudindo muito e matando saudades de um tempo áureo da televisão educativa brasileira.

Serviços

Admirável Nino Novo
Local: Teatro das Artes
Endereço: Avenida Rebouças, 3.970. Shopping Eldorado – 3º Piso, São Paulo
Telefone: (11) 3034-0075
Capacidade: 769 pessoas
Quando: Sábados e domingos, às 17h
Duração: 60 minutos
Classificação etária: Livre
Ingressos: R$ 60 e R$ 70
Temporada: De 7 de outubro a 12 de novembro de 2017

Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical
Local: Teatro Opus
Endereço: Av. das Nações Unidas, nº 4.777 – Alto de Pinheiros / 4° piso – Shopping Villa Lobos, São Paulo
Telefone:(11) 4003-1212 (Ingresso Rápido)
Capacidade: 721 pessoas
Quando: Sábados e domingos, às 11h e às 16h. Duração: 100 min. (com intervalo)
Classificação etária: Livre
Ingressos: De R$ 50,00 a R$ 120,00
Temporada: De 9 de setembro a 19 de novembro de 2017