Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 17.01.2014

Barra

São Paulo: Bonecos ensinam a conviver com diferenças

Em As Casas, o Coletivo de Ventiladores retrata a vida de dois bonecos vizinhos, com hábitos opostos, mas doidos pra serem amigos

Eles se autodenominam “um grupo de teatro intercontinental e nômade”. Fábio Supérbi, mestre em teatro pela Universidade Estadual Paulista, e Juliana Notari, que estudou a arte das marionetes durante quatro anos na França, formam o Coletivo de Ventiladores, recrutado espertamente pelo SESC Bom Retiro para ocupar a unidade durante todo este mês de janeiro com espetáculos, workshops, vivências e contações de histórias, tudo em torno do tema “O olhar sensível do boneco”.

Fui conferir uma das peças, As Casas, que está em cartaz só aos domingos ao meio-dia. Há mais duas chances: neste domingo (dia 19) e no próximo (26). A proposta de encenação é um encanto. Nem sempre funciona tecnicamente, pena, mas é uma ideia atraente que cativa o público pelo inusitado. Os bonecos são manipulados ao mesmo tempo em que são filmados por minicâmeras escondidas no cenário. Ou seja, podemos ver o real e, ao mesmo tempo, a projeção das imagens ao vivo em dois telões lindos em forma de nuvens.

Quem viu Rabisco – Um Cachorro Perfeito, anos atrás, da Cia. Maracujá Laboratório de Artes, do diretor Sidnei Caria, sabe do que estou falando. É a mesma técnica. No caso de As Casas, embaixo de cada nuvem-telão há uma linda casinha decorada: a de João, em que tudo (móveis, objetos) é redondo, e a de Antonio, em que tudo é quadrado. Os dois vizinhos levam vidas diferentes e a intenção do enredo é mostrar que os opostos podem se integrar e viver juntos com harmonia e felicidade. Está também bastante presente o tema da sustentabilidade e da reciclagem de lixo.

O problema da técnica é que, muitas vezes, o telão fica ligado sem nada acontecer dentro da casa, porque o boneco sai fora do alcance da câmera. Bastava maior cuidado com os tempos de ‘liga o telão – desliga o telão’. Mas, no geral, a peça flui e prende a atenção da plateia, sobretudo pela ajuda ao vivo de dois músicos, o da banda quadrada e o da banda redonda. Eles são responsáveis por grande parte do clima contagiante em que a história se desenrola. Sem eles, não sei se só os dois manipuladores dariam conta da proposta. Pena que esses dois músicos não são identificados no pobre e malfeito ‘programinha’ do espetáculo, feito pelo SESC. Às vezes, o SESC economiza onde não devia… (Há crédito para música original de Leon Bucaretchi, portanto imagino que esse seja um dos músicos, mas e o outro?) Puxão de orelha na produção.

As próximas contações de histórias do grupo, na área de convivência do SESC Bom Retiro, e sempre às 15 horas, com entrada franca, serão: sábado, dia 18, O Tintureiro Aldo; domingo, dia 19, Zé do Trem: Estação Minas Gerais; dia 25, Brechó da Cida: Roupas do Campo, e dia 26, O Tapeceiro Jimmy: As Mil e Uma Noites.

Serviço

As Casas

Sesc Bom Retiro
Al. Nothmann, 185
Tel. 11 3332-3600
Domingos ao meio-dia.
Ingresso a R$ 8,00 (inteira)
Até o dia 26