Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 08.02.1976
Carrapicho
O texto de Carlos Nobre e a direção de Brigitte Blair são exemplos típicos de um teatro velho, cansado, sem imaginação, repetitivo e repleto de lugares comuns. Carrapicho é mais uma peça educativa (???) que tem o objetivo de mostrar, às crianças, que roubar é feio. É um texto cheio de incoerências; afirma-se ao final: “Toda Confusão foi causada para que Carrapicho recuperasse a graça” e, logo depois, fica provado que tudo aconteceu pelo ciúme que Paulo e Carlos tinham um do outro. A deprimente participação (???) é o caminho utilizado pelo autor: “Vocês querem me ajudar?”; “Vamos todos contar: 1,2,3 …”, “Vamos bater palmas”; “As crianças é que podem saber quem foi, vamos perguntar a elas.”
Esta última frase exemplifica bem a falta de estrutura do texto. Eles poderiam ter pedido que as crianças solucionassem o problema logo-logo, mas, aí, a peça terminaria imediatamente…
O espetáculo não é nada criativo e o elenco é falho em termos de técnica, de comunicação, de criatividade, de experiência. Com exceção das atrizes que interpretam Carrapicho e a Bailarina (seguras e, em determinados momentos, muito comunicativas) os demais atores têm trabalhos bisonhos (bisonhos, aliás, como o texto e a direção). Os cenários e os figurinos são sem expressividade e há algumas roupas onde se nota um profundo desconhecimento da importância de saber misturar cores. As marcas são pra lá e pra cá e os personagens ainda se esbarram andando de costas, vindo das coxias. O português é agredido em várias cenas, destacando-se neste ataque vernacular o ator que faz o Mister Paulo: repete várias vezes o absurdo de “meus peso”.
Quando vimos o cuidado na montagem de Bingo, o Coelhinho Xerife, pensamos que iria subir o nível de qualidade das peças infantis montadas no Teatro Brigitte Blair. Pelo visto, estávamos enganados.