Com coreografia de Cláudio Moreno, Capitães de Areia recria fielmente o clima baiano

Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Luciana Sandroni – Rio de Janeiro – 24.07.1992

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Meninos de rua em ritmo de aventura

Roberto Bomtempo monta Capitães de Areia, marco do teatro juvenil da cidade

Em tempos de extermínio de meninos de rua, nada mais oportuno que a nova montagem de Capitães de Areia, da obra homônima de Jorge amdo. Roberto Bomtempo, diretor e adaptador, presta homenagem ao falecido Carlos Wilson, o Damião, que em 1982 montou a peça e obteve grande sucesso lançando jovens atores e abrindo caminho para o teatro juvenil.

Texto comovente Capitães de Areia, em cartaz no Teatro Vanucci, em certas partes exagera o lado emocional. Os diálogos muitas vezes são forçados e carrega nos estereótipos: a mulher-prostituta, o menino-homem-machão, o negro-bom e o padre comunista. A aventura e a amizade amenizam as dificuldades.

Talvez o tempo tenha tornado Capitães de Areia água com açúcar, uma vez que hoje estamos mais para Infância dos Mortos, de José Louzeiro, do que para o dos heroicos meninos de Salvador. A realidade cruel consegue ser mais fantástica do que a ficção. Mas, mesmo assim, esta montagem é positiva até para manter a discussão em torno da tragédia dos menores.

Roberto Bomtempo realiza um excepcional trabalho de atores. São 29 artistas que mostram vitalidade e paixão pelo ato de representar, especialmente Victor Hugo, o Sem Pernas. Uma revelação no grupo, que consegue um equilíbrio raro de se encontrar. Mas Bomtempo não inova na direção, e usa muitos Black-outs. A morte do Sem Pernas é enfraquecida cenicamente, enquanto a de Dora é prolongada. Jonas Torres é desperdiçado em papel secundário.

A direção musical de Zé Alexandre e Cebolinha coloca o espectador no clima baiano e oferece um espetáculo ao vivo com direito a muitas cenas de capoeira, que embelezam e caracterizam a montagem. A boa coreografia é de Claudio Moreno.