Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 17.10.1981

Um Bloco na gangorra 

Canto de Trabalho, espetáculo musical do Bloco da Palhoça, encenado no Teatro Villa Lobos, parte de uma ideia muito interessante, definido assim pela autora Maria de Lourdes Martini: “- Nosso espetáculo pretende, exatamente, realçar a verdadeira função do trabalhador e mostrar que com amor e criatividade o trabalho é fonte de prazer e energia”. A partir dessa ideia, o Bloco da Palhoça montou um espetáculo para mostrar a cantos do trabalho de várias regiões do Brasil, criando músicas originais ou adaptando o folclore. A encenação, dirigida por Maria de Lourdes Martini, consegue criar certas imagens e climas bem significativos, estabelecendo, nesses momentos, uma comunicação forte com o público. Entretanto, essa não chega a ser a tônica do espetáculo, que varia entre instantes de muito envolvimento e cenas bastante frias, distantes (facilmente observável pelo comportamento da plateia infantil, nessas horas; desinteresse, dispersão, agitação desligada da encenação). Canto de Trabalho começa meio frio, sem criar expectativas e sem estabelecer um clima forte. A seguir, vai aquecendo gradativamente, já na cena com os tijolos, determina com o público a comunicação solta obtida em seus trabalhos anteriores. Novamente o espetáculo vai esfriando para, no “Amola, amola”, crescer de novo. Em “Passa boi, passa boiada”, cria-se uma enorme expectativa em cena (há arrumação do cenário as ações são agitadas, entre a mulher com filhos, entra um repressor (?) com um apito), mas e daí Não acontece nada; tomam o trem e vão embora. Fica mais forte a expectativa criada que a conclusão oferecida. E é nessa gangorra que Canto do Trabalho se movimenta, às vezes, muito envolvente, às vezes muito distante. Desses momentos envolventes merecem ser citadas, ainda, as cenas do mar (os sons, a luz, o clima), do reino (a animação), a beleza do momento de Nossa Senhora e o comunicativo final. A parte musical é muito gostosa e tem, ainda, o valor de mostrar, para as crianças urbanas, um repertório criativo de um Brasil quase desconhecido. Sem ter a força de seu trabalho anterior (“Música para Brincar e Cantar”, que mereceu inclusive, o Prêmio Mambembe do ano passado), o Bloco da Palhoça, com Canto de Trabalho permanece desenvolvendo sua proposta de modo coerente, bem cuidado e criativo.