Inexperiente, o elenco não consegue dar à palavra a força exigida pela proposta cênica

 

Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 11.06.2005

 

 

 

 

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Histórias sem surpresas

Falta um pouco de emoção a Confabulando

Dirigida por André Paes Leme, Confabulando, em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal, visa mesclar o teatro narrativo e o dramático, com narradores, personagens narradores e personagens interagindo. Esta opção de cena pretende valorizar a palavra, e uma das razões de sua predominância nos palcos nesta era cibernética talvez seja justamente a necessidade do resgate da oralidade.

No entanto, ao se juntar narrativa oral cênica e narrativa dramática, muitas vezes ocorrem problemas de indefinição de proposta. Um contar que trabalha insuficientemente a palavra se alia a um teatro insuficiente quanto ao seu desenvolvimento dramático. Se a opção estética é valorizar a palavra, esta tem que ser o foco primeiro. Os atores, enquanto contadores têm que buscar a interlocução com o espectador. Porém, em Confabulando, os atores, muito jovens e inexperientes, não dão à palavra a força que a proposta cênica pede. E na tentativa de dar mais colorido à fala, ao invés de se utilizarem da própria palavra, buscam o recurso no gesto fácil e na expressão comum, o que esvazia ainda mais a palavra de seu sentido maior.

Assim, o espetáculo transcorre linear. As formas de narrar são as mesmas em todos os contos, nada surpreende o espectador. E como diz Margaretha Nicolescu, diretora do Centro Teatral de Charleville-Mézieres, “só existe teatro quando se surpreende o espectador”. Ao invés disto as histórias são ditas sem emoção e sem a técnica adequada que permita envolver o espectador. A própria fábula por vezes se perde em meio da encenação, o que distancia mais ainda o ouvinte da palavra.

O cenário de Danyelle Espinelli e o figurino de Elaine Cerqueira seguem uma linha em que a proposta parece ser a simplicidade, mas o que falta é criatividade. Da mesma forma, os poucos recursos da luz assinada por Fred Tolipan e uma trilha sonora de Joana Bergman por demais econômicas não dão o suporte necessário às cenas.

Confabulando
 é um espetáculo dirigido por André Paes Leme que está em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal. A cena do teatro para crianças, hoje, no Rio de Janeiro, se divide entre os recontos tradicionais e os recontos populares. A narrativa oral cênica está presente em Confabulando que busca mesclar o teatro narrativo com o teatro dramático, com  narradores, personagens narradores e personagens interagem.

Esta opção de cena pretende valorizar a palavra e uma das razões de sua predominância nos palcos, hoje, talvez seja a necessidade do resgate da oralidade, nesta era cibernética. No entanto, ao se juntar narrativa oral cênica e narrativa dramática, muitas vezes ocorrem problemas de indefinição de proposta. Um contar que trabalha insuficientemente a palavra se alia a um teatro insuficiente quanto ao seu desenvolvimento dramático.

Se a opção estética é valorizar a palavra, esta tem que ser o foco primeiro; os atores, enquanto contadores têm que buscar a interlocução com o espectador. Porém, em Confabulando, os atores, muito jovens e inexperientes, não dão à palavra a força que a proposta cênica pede. E na tentativa de dar mais colorido à fala, ao invés de se utilizarem da própria palavra, buscam o  recurso no gesto fácil e na expressão comum, que esvazia ainda mais a palavra de seu sentido maior.

Assim o espetáculo transcorre linear. As formas de narrar são as mesmas em todos os contos, nada surpreende o espectador. E como diz Margaretha Nicolescu, diretora do Centro Teatral de Charleville-Mézieres“só existe teatro quando se surpreende o espectador”. Ao invés disto as histórias transcorrem previsíveis, sem a emoção necessária, nem técnica que envolva o espectador – a própria fábula por vezes se perde em meio de uma encenação um pouco confusa, que mais distancia ainda o ouvinte da palavra.

As fábulas escolhidas não formam um todo orgânico. Por vezes não se sabe onde termina uma e se inicia outra. A tentativa do tom intimista também não chega a acontecer – um tom impessoal domina a contação.

Num espetáculo em que a palavra é o centro, onde a ação dramática vem em segundo plano, as excessivas ações físicas tentam prender a atenção do espectador, porém conseguem o efeito contrário. É a palavra que ali tem o poder – esta é a proposta.

O elenco diz o texto sem dar a ele a força que ele tem por si mesmo, esvaziando-o de significado e emoção, mesmo nos textos que tratam de fortes temas como o “diabo”, em Nariz de Prata, uma adaptação do Barba Azul, feita por Ítalo Calvino. Há uma contenção em relação a determinadas passagens, como se o espetáculo, que se propõe infantil, receasse as tintas mais fortes da encenação. E a criança, que assimila perfeitamente qualquer “crueldade” na ficção, perde o prazer de se assustar e de sentir um medo seguro – o da ficção.

O cenário de Danyelle Espinelli e o figurino de Elaine Cerqueira seguem uma linha onde a proposta parece ser a simplicidade, mas na verdade peca por falta de criatividade. O simples pode ser a expressão máxima do criativo. Da mesma forma os poucos recursos de luz assinada por Fred Tolipan e uma trilha sonora de Joana Bergman por demais econômicas, não dão o suporte necessário às cenas, mesmo que não houvesse havido os problemas técnicos ocorridos no dia da apresentação.

Voltando a citar Margaretha Nicolescu ela diz: “só devemos montar um espetáculo depois de nos perguntarmos cinco vezes – por que montar? O que estou irresistivelmente necessitando dizer? E tivermos cinco convincentes respostas”. Os contos estão a toda hora no palco, as encenações que buscam esta linha de trabalho também, montagens frágeis, sem vigor, não transformam, como desejamos, os nossos pequenos espectadores em espectadores futuros. Sem a intensa magia do teatro não há o público de amanhã.