Fotos: João Caldas

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 23.10.2015

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Musical acerta ao mesclar conto de fadas com direitos humanos

Canção dos Direitos da Criança evita o tom de catequese e encanta a plateia com boa música e enredo envolvente

“Todas as crianças são iguais e têm os mesmos direitos, não importa sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade.” Esta é apenas a primeira frase da Declaração Universal dos Direitos da Crianças – dez princípios aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1959. Algumas montagens teatrais já se inspiraram em todos os itens, assim como o disco Canção dos Direitos das Crianças, lançado em 1987 por Toquinho e Elifas Andreato.

Agora, um novo musical caprichado e bem escrito está em cartaz em São Paulo, inspirado nas canções do disco de Toquinho, com direção e texto da premiada Carla Candiotto. O maior mérito da autora e diretora foi não deixar que tudo virasse uma catequese chata, com ranços de moralismo e aula de bons costumes. Para tal, ela própria criou uma fábula movimentada e fantasiosa, que enreda o público com estrutura de contos de fadas e impede que as fortes intenções didáticas da proposta entediem as crianças.

A rainha-bruxa criada por ela, por exemplo, e magnificamente interpretada por Carol Badra, é uma personagem dúbia, inquieta, atormentada por um segredo do passado, solitária, muitas vezes mostrando seu lado humano em plena convivência com seu lado truculento. Outros dois destaques do extenso elenco são Fabiano Medeiros, no papel do menino órfão, que cativa com carisma, além de dançar e cantar muito bem, e Igor Miranda, como o inescrupuloso e ganancioso Primeiro Ministro.

Roberto Alencar criou coreografias espertas, dignas dos melhores musicais. São emocionantes os movimentos que imitam crianças empinando pipas, por exemplo, ou a cena com todos os personagens de camisolão acordando para um novo dia. Wagner Freire esmera-se no desenho de luz. Daniel Rocha é outro que mostra que não ‘dorme no ponto’, caprichando na direção musical e arranjos. Marco Lima explode em criatividade ao assinar figurinos e cenografia. A ambientação remete à era vitoriana, em meio à Revolução Industrial. Engrenagens, polias e chaminés dominam o cenário de forma incrivelmente plástica. Não se economiza em adereços nem em efeitos especiais, como o teatro de sombras. Ponto alto é quando a Rainha de Carol Badra lembra do circo de sua infância e uma estrutura de picadeiro toma conta do palco, arrebatando a todos com um visual colorido, saudosista e encantador. As máscaras de elefante, leão e cavalo, animais do circo, são o máximo.

Estranho é que uma temporada tão bem-sucedida, de um espetáculo que já estreou vitorioso, esteja já se despedindo do público, depois de tão pouco tempo em cartaz. Musicais assim, genuinamente nacionais, engrandecem o gênero e merecem longevidade no circuito. Que venham, em breve, novas temporadas, para que mais e mais crianças cantem com o elenco, na cena final, uma das pérolas do nosso cancioneiro infantil, Aquarela: “Nessa estrada, não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela? Ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela, que um dia, enfim, descolorirá.”

Serviço

Teatro Shopping Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 596 – 7.º andar – Consolação – São Paulo
Tels. (11) 3472-2229 e (11) 3472-2230
Sábados e domingos às 16 horas
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)
Só até 1.º de novembro