Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 27.05.2016
Meninas do Conto mergulham com graça no universo caipira
Caminho da Roça marca os 20 anos do grupo da melhor forma possível: com muito talento e competência
Depois de recuperar seus maiores sucessos em uma mostra na aconchegante Sala B do Teatro Alfa, em São Paulo, para comemorar seus 20 anos de trajetória, o grupo As Meninas do Conto agora nos mostra um espetáculo novo, Caminho da Roça, com direção do premiado Eric Nowinski. Trata-se de mais uma pérola imperdível.
“Uma viagem ao mistério dos seres fantásticos do universo caipira.” Assim o diretor define a peça. Vejam como o grupo fez a sinopse para o programa da peça: “Tudo começa quando duas Comadres recebem a perigosa missão de levar uma viola encantada através da noite escura, por onde galopa ninguém menos do que a terrível Mula-Sem-Cabeça.
Mas para cumprir essa tarefa, elas contarão com ajudas nunca imaginadas, como a esperteza do Saci Pererê e a sabedoria de uma Avó, que insiste em contar antigas histórias que, se não forem passadas adiante, poderão acabar perdidas para sempre.”
A dramaturgia, assinada por Paulo Rogério Lopes e Simone Grande, é espertíssima, ágil, inteligente, cheia de, por assim dizer, reviravoltas ou mudanças de linguagem. No início, as duas atrizes (Simone Grande e Antonia Matos) surgem no palco como duas violeiras, depois viram as duas Comadres, depois essas personagens viram bonecas manipuladas pelas atrizes. Há também o momento do teatro de sombras e, ainda, a virada em que as duas personagens se transformam em avó e neta na cozinha da casa da primeira. E eis que assim as duas narrativas se encontram – a peça e a história dentro da peça, fazendo com que cada atriz dobre seu papel. É tudo muito dinâmico e muito bem escrito. Um casamento perfeito entre direção e dramaturgia. Fiquei muito bem impressionado pelo talento do trio de criadores – Simone, Eric e Paulo Rogério.
As duas atrizes dão banhos de talento e graça. Dominam a técnica de contadoras de histórias e a mesclam com interpretações incríveis e seguras, sem cair em estereótipos exagerados do mundo caipira. Simone Grande e Antonia Matos dão um show na prosódia interiorana. Nada sai do tom, nada pesa, nada fica exagerado e apelativo. E, puxa, como Antonia Matos canta bem! Aliás, vale destacar uma dentre tantas cenas muito bem-feitas: quando as duas têm de cantar, mesmo sem querer, pois o violão encantado faz uma mágica que as obriga a soltar a voz. Ambas brilham com humor e uma certa ingenuidade comovente.
Carolina Bassi dá seu recado de forma segura em cenografia e figurinos. O fogão da casa da avó virando a própria Mula-Sem-Cabeça é uma sacada hilária. Nos minutos finais do espetáculo, um cheiro de bolo quentinho começa a invadir a plateia. Não é trucagem. Um bolo é realmente assado na coxia e servido no saguão após a peça. Programa completo. Não perca.
Serviço
Teatro Alfa
Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722
Tel. (11) 5693-4000
Sábados e domingos, às 17h30
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$15,00 (meia para crianças, estudantes e maiores de 60 anos)
Até 26 de junho