Carlos Lofler e Carla Marins em Calibã, uma boa indicação

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 26.09.1987

 

 

 

 

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O Teatro pelo Teatro

As crianças já têm sua versão de Irma Vap, pelo menos no  aspecto formal. Está no palco do Teatro Vanucci, Calibã, uma peça de Marilu Alvarez que já mereceu o Troféu Mambembe  em São Paulo e chega ao Rio pelas mãos de Francis Mayer, responsável pela  bonita montagem de O Mágico de Oz  vista ano passado, também com direção de Waldez Ludwig.

Centrada em dois atores – Carlos Loffler, que também já colheu seu Mambembe em Jardins de Infância, e Carla Marins,  atriz global que se revela muito segura no palco – e nos excelentes figurinos  de Rosa Magalhães, outra premiada de 1986 pelo MINC-INACEN, o espetáculo é  irrepreensível, dirigido com a maior sensibilidade. O cenário é o próprio  camarim, os atores trocam de roupa em cena e, com ela, mudam seus papéis,  experimentando tipos e perfis diversos.

Trata-se de uma história já não muito rara, onde as personagens “à procura de  um ator” se assumem como tais para desenhar, mais que sua  história – vimos, este ano, o belo trabalho de Luiza Lacerda no SESC Tijuca com  bonecos, em História Encontra Ponto  -, sua identidade. Mas ao invés de viverem apenas suas próprias peripécias,  começam a desdobrar outras narrativas em que se transformam de novo em  personagens, num jogo que aponta para a possibilidade de inventar-se o próprio  destino, já que o nome mágico Calibã só excepcionalmente, na arte, é dado a escolher.

Pelo texto passa também a discussão entre o velho e o novo, o reaproveitamento da tradição – era uma vez – em possíveis novas versões tão inusitadas quanto plausíveis, o que, no fundo, aponta para a crise da criação de modo lúdico num processo de metalinguagem. Por isto mesmo os adultos ao lado do público infantil já que as aventuras dos personagens lidam com emoções e brincadeiras que permitem diversos níveis de leitura. De braços com a fantasia – pequenas ironias, certo nonsense – a realidade evolui sobre as dúvidas para alcançar, através  dos conflitos, da reflexão, uma espécie de sobrevivência pela arte, capaz de rever e rever-se.

Realmente não se pode dizer que a temporada de 1987 esteja ruim no teatro infantil.