Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Rosa Maria Corrêa – Rio de Janeiro – 05.03.1988

Edgard Amorim, Vera Regina e Felipe Martins revivem os três amigos de Beto e Teca, espetáculo do grupo Grips de Berlim, dirigido e adaptado por Renato Icarahy

Carla Marins e Carlos Lofler retornam com Calibã

Pique Teatral

Houve quem se espantasse com o número de espetáculos teatrais que saíram de cartaz na semana passada. E o público lotou os teatros, que encerravam a temporada de férias com a marca do sucesso. Mas o teatro infantil acompanha o pique da garotada e não dorme em serviço. Neste fim de semana, por exemplo, três espetáculos retornam aos palcos – Calibã, no Teatro da UFF, Beto e Teca no Teatro dos Quatro, e Camaleões e as Batatinhas Mágicas, no Teatro do Planetário – seguindo o mesmo objetivo, ou seja, oferecer divertimento aliado a conhecimento e profissionalismo aos pequenos.

Beto e Teca

O Grupo Tapa também retorna ao infantil, dando continuidade ao Projeto Duas Vezes Grips, com a remontagem de Beto e Teca, de Volker Ludwig, um mergulho no universo do Grips Theater de Berlim, mundialmente conhecido como o grupo que revolucionou a história do teatro infantil, levando à cena peças que fogem às historinhas de contos de fadas. Beto e Teca, por exemplo, questiona o social através da história de um encontro entre dois irmãos que moram com a mãe, uma típica mulher moderna, aberta e descasada – e Pedro, um menino solitário e filho único, que mora com o pai, a madrasta e os quatro irmãos do segundo casamento do pai. As crianças reproduzem os padrões de relacionamento que trazem de casa. Pedro é um menino mau, Teca é metida e só atrapalha as brincadeiras, repetindo tudo que aprende na televisão, e Beto é extremamente medroso.

A atriz Vera Regina representa a Teca, atualizou todos os anúncios de televisão que a menina cita, e afirma que “as crianças se identificam totalmente com os personagens”. Felipe Martins, no auge do sucesso interpretando Vanderlei, o grande amigo de Édipo na novela Mandala, participando do filme Banana Split e atuando na peça Tributo, ao lado de Jorge Dória, define o Grips como um processo revolucionário de teatro, que vê a criança como criança. Felipe conta que quando fez o Beto pela primeira vez em 1985, recebeu o Troféu Mambembe de Melhor Ator, emocionou-se demais ao lembrar de cenas de seus cinco anos de idade e que na época eram vividas pelo seu irmão mais novo, e estavam no texto de Beto e Teca.

Grips significa em alemão raciocínio/massa cinzenta, e segundo Renato Icarahy, que assina adaptação e direção de Beto e Teca, o espetáculo é um “teatro realista, dedicado especialmente às crianças, com perspectivas emancipatórias, e que pode ser encenado em qualquer país de moldes capitalistas, pois há o questionamento do medo de rejeições, do pouco tempo dos pais e do desnível social”.

O Projeto Duas Vezes Grips reapresenta Beto e Teca até o final deste mês, enquanto prepara a grande estreia de Mugnog, de Rainer Hachfeld, uma severa crítica à sociedade, através de uma caixa de risos que diverte a criançada.