Critica publica no Jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 1985

Barra

Comédia política faz contatos imediatos com o jovem

Continuando o trabalho iniciado com O Noviço, o Grupo Tapa avança em sua programação destinada, em princípio, ao público estudantil, e prossegue no traçado da trajetória do teatro brasileiro do século passado com Caiu o Ministério, de França Júnior. Rigorosamente dentro do programa estabelecido no princípio do ano, o Tapa não se deixou seduzir pelo grande sucesso que vinha fazendo a peça de Martins Pena, feliz escolha para iniciar o Festival de Teatro Brasileiro, e tirou O Noviço de cartaz no auge do sucesso, com venda de ingressos inclusive em pé, coisa rara entre nós. E, trocando o certo pelo duvidoso, o grupo se arrisca, dobra o número de atores em cena sob a direção de um principiante na função, e, apesar de se manter na comédia, o tema passa da família versus religião para a política, ainda de pouco interesse para esta geração ginasiana. O grupo está confiante, pelo menos, na honestidade e esforço de seu trabalho.

Neste Caiu o Ministério como em O Noviço não se pretende passar uma visão crítica dos fatos da época; como montagem para adolescentes, ela suscita (ou não, dependendo do espectador) a formação de uma visão crítica, que pode e deve ser aproveitada em aulas de Estudos Sociais ou Comunicação. Tirando a poeira de clássicos nacionais desconhecidos da massa de espectadores (e ai se incluem os de todas as faixas etárias), o Tapa começa a produzir um interesse no público pelo teatro, através do estabelecimento de um contato simples, direto e despretensioso, com base em identificações imediatas. Em Caiu o Ministério (programado antes dos acontecimentos recentes da Nova República) esta identificação é instantânea e mesmo os menos ligados aos aspectos políticos da vida nacional e que se deixam envolver pelo aspecto cômico do espetáculo ficarão surpresos com a atualidade do texto. Vale dizer que, em cem anos, o comportamento político do brasileiro nada mudou. E se é esta triste realidade que o diretor pretendeu deixar como semente para ser trabalhada nas escolas e, individualmente, dentro de cada adulto espectador, seu objetivo foi alcançado, apesar de toda a superficialidade com que as situações são apresentadas em cena, em menos de uma hora.

O trabalho dos atores (15), como sempre, é de bom nível, sendo que, ao contrário do Noviço, os destaques vão para a ala feminina integrada por Denise Weinberg, Vera Holtz (estreando no grupo), Teresa Frota, Suzana Kruger e Denise Fraga, que conseguiram dar contornos muito fortes à influência feminina brasileira na vida política. Denise é uma excelente snob e Vera (salvo pelo sotaque gaúcho) faz bem a representante da tradicional família mineira. Destaques masculinos para Cláudio Gaia, Brian Penido, Henri Pagnoncelli e Renato Icarahy. José Lourenço, responsável pela direção musical, consegue excelente resultado com o elenco nas duas músicas apresentadas (uma de sua autoria, com letra de Renato Icarahy) e pode começar a pensar em fazer um musical. Impecáveis, como sempre, os trabalhos de Lola Tolentino (figurinos) e de Ricardo Ferreira e Olinto de Mendes de Sá (cenários e adereços).