Crítica publicada na Revista Isto É
Por Marília Martins – Rio de Janeiro – Junho 1985

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Painel divertido do Rio antigo

Graças a um perfil de companhia de teatro, com funções especializadas e uma estrutura de produção muito ágil, o grupo carioca Tapa comprova mais uma vez que é capaz não só de manter em cena um teatro de repertório muito cuidado mas também de permitir um rodízio na direção de seus espetáculos, que raríssimos grupos dos anos 70 conseguiram executar.

Dando continuidade à programação de seu festival de teatro brasileiro, ele acaba de estrear, no Ipanema, Caiu o Ministério, a segunda montagem de seu Projeto Escola, destinado a adolescentes, que agora se transfere para o interior de um teatro.

A peça, escrita em 1881 por França Júnior (1838-1890), um dos nossos melhores comediógrafos do século passado, dá contornos políticos mais diretos à bem-sucedida fórmula da comédia de costumes. Em meio à tradicional trama amorosa da mocinha de família respeitável assediada por ambiciosos pretendentes, desenham-se o tráfico de influências, o favor e o compadrio que permeiam a prática dos gabinetes oficiais. E o autor foge das quatro paredes das salas de estar e escritórios e apresenta no palco a movimentada rua do Ouvidor, centro dos boatos da corte, dos almofadinhas medíocres, das arrogantes senhoras de salão. As cenas são curtas e ágeis, com muitas ações paralelas e diálogos rápidos.

Na direção de Celso Lemos, gestos largos, exagerados, redundantes ao texto, marcações em duplas e trios, ritmo de chorinho. O objetivo é explicitar ao máximo falas e intenções das personagens. Mas Celso ultrapassa o tom didático, multiplicando as ações simultâneas, que diversificam no palco os pontos de interesse do espectador, e reduzindo os cenários a elementos essenciais muito eficientes, como os toldos e cartazes de propaganda que identificam a rua do Ouvidor. Além disso, os trejeitos e entonações não se limitam a enfatizar, mas servem para comentar ironicamente os diálogos e para detalhar personagens. O que se vê em cena é um painel muito divertido da provinciana elite do Rio antigo, onde se destacam, num elenco homogêneo, as composições de Brian Penido, Denise Weinberg e Henri Pagnoncelli.