Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 14.05.2005

 

 

Barra

A magia das histórias 

O grupo Os Tapetes Contadores de Histórias, em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim com Cabe na Mala? é uma versão brasileira do projeto Raconte-Tapis, criado na França pela educadora Clotilde Hammam, que usa diversas linguagens, além da palavra, para contar histórias, com o intuito de estimular a leitura.

Cabe na Mala? conta histórias de Ana Maria Machado, além da lindíssima A Rainha das Cores, da escritora alemã Jutta Bauer. Para cada uma o grupo usa técnicas e materiais diversos. As três primeiras, de Ana Maria Machado são contadas com o auxílio da técnica do teatro de formas animadas; os elementos de cena saem de dentro de uma mala de patchwork, construindo cenário e personagens que vão sendo animados pelo contador.
Em A Rainha das Cores, com técnica inspirada no teatro de sombras, o grupo usa uma grande caixa de luz, que recebe tecidos transparentes, sobre uma tela translúcida, criando  belíssimas imagens.

A animação é utilizada todo o tempo, com a manipulação direta de figuras em duas dimensões. Por vezes, a imagem se sobrepõe à palavra.

Em O Avental que o Vento leva, Carlos Eduardo Cinelli alcança o melhor equilíbrio entre a palavra e imagem. Elementos de cena saem magicamente de um avental e são manipulados pelo contador. A palavra predomina.

A sessão de contadores de histórias conta com figurinos, cenário, música e adereços, de Warley Goulart, que assina a direção com Cinelli. A simplicidade conduz a estética do espetáculo, intimista, ideal para crianças pequenas. Os elementos de cena, confeccionados pelo próprio grupo, são minuciosamente trabalhados. Toda a produção do espetáculo revela um cuidado primoroso com o produto oferecido ao público.

A luz branca ilumina suavemente o ambiente e em particular os contadores. As músicas, cantadas a capela, remetem a cantigas de roda. Os figurinos são compostos de calças e camisetas de malha colorida. Contadores e público descalços criam o ambiente ideal para a magia e lirismo das histórias.

Os contadores, Edison Mego, Helena Contente, Rosana Reátegui e também o próprio diretor, Warley Goulart, têm um desempenho equilibrado em cena. Embora cada um imprima seu estilo próprio, o grupo  mantém a unidade em torno de um contar natural, despojado, mas rico em nuances.

Realizado desde 1998, o trabalho de pesquisa do grupo busca uma linguagem própria, brasileira, que resgata o momento intimista da história contada e recontada pelas vós e avós de outros tempos. Como disse Monteiro Lobato, o livro é lugar onde a criança quer morar. Cabe na mala? é lugar onde as crianças querem entrar. E realmente entram e viajam pelo mundo mágico da ficção.