Mara Baraúna reflete o clima sempre alegre da montagem

Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 23.06.1979

 

Barra

Qualquer um pode fazer música

A intenção de Bumbo, Violão, Violino Também, de Carlito Marchon, fica bastante clara: mostrar as crianças que cada um de nós é um instrumentista, que cada objeto pode ser um instrumento. Um ralador vira (reco-reco); uma lata e grãos de milho fazem um chocalho; garrafas com água se transformam num xilofone. É pena que o espetáculo mostre essas possibilidades, mas acabe utilizando os instrumentos tradicionais para sua base musical. Se os acompanhamentos musicais fossem mais calçados em instrumentos improvisados haveria maior criatividade e a ideia central ficaria ainda enfatizada.

O texto é apenas um roteiro para servir de base à ideia principal; a ausência da banda prometida é apenas o pretexto que levará os atores a motivar as crianças a criarem por seus próprios meios, a improvisarem com objetos. Qualquer um pode fazer música (o que é bem diferente de se afirmar que qualquer um pode ser concertista), mesmo aqueles que pensam não saber cantar, tocar ou dançar, já que “todos têm a música dentro de si”. De passagem, o texto critica a repressão na figura sempre castradora do guarda, que se coloca como invulnerável a qualquer manifestação da sensibilidade humana e que só entende se prender e proibir. Ao final, entretanto, é tão grande a força da música que o guarda acaba seduzindo e se integrando e entregando. Sinto falta de um pouco mais de ênfase na conversão do guarda: para quem estava tão contra, sua adesão me parece fácil e rápida demais.

Apesar do uso dos instrumentos tradicionais (violão e bumbo) é boa a direção musical de Shorty e isso é notado principalmente pelo canto que chega limpo, agradável, mesmo sendo em mais de uma voz. As músicas de Gracinha Gomes dão o clima para uma direção (de Antonio de Bonis) alegre, descontraída, leve.

A encenação é interessante, porém não chega a um nível mais significativo pela pouca ambição do texto. O elenco atua dentro da atmosfera descontraída sem, entretanto, mostrar algum desempenho que mereça citação especial.

Os pais devem chegar pelo menos com 15 minutos de antecedência ao Teatro Opinião, pois, antes de começar o espetáculo, os atores fazem um relacionamento com as crianças, ensinando-as a improvisar instrumentos. Isso já chama a atenção da criança para a ideia central da peça e predispõe o público infantil a um diálogo mais desinibido com a encenação.