Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 23.07.2006
Nada funciona em cena e as crianças acabam chorando
O espetáculo Búúú! Os Monstrinhos Atrapalhados, em cartaz no Teatro SESI, apresenta diversos problemas. O texto, de Felipe Néri, não possui estrutura dramática. Duas situações se entrecruzam todo o tempo: as cenas na casa dos irmãos Juju e Pedrinho e as cenas na casa dos fantasmas atrapalhados. Apenas um leve fio condutor, que não se concretiza como história, conduz a trama. Os pequenos espectadores reclamam, choram, pedem para ir embora, não por medo, mas por não conseguirem entender o que se passa no palco.
O elenco não domina o básico: saber contracenar. Parece que todos estão ali sozinhos, em um companheiro de cena que permita que se inicie o jogo teatral. A direção frágil, de Gilvan Balbino não solucionou esta questão básica e os atores ficam no palco muitas vezes sem ter o que fazer ou dizer, enquanto outras cenas se desenvolvem simultaneamente. Elementos circenses e esportivos são usados de forma descontextualizada, por falta de uma proposta de linguagem cênica.
Há, na verdade, uma tentativa frustrada de estabelecer níveis diferentes de representação, como realidade, sonho, fantasia, o que poderia ser uma boa alternativa. Mas a direção não toma esse rumo e tal perspectiva se perde em cena. Apenas o adolescente Felipe Fontenelle, que interpreta o personagem Pedrinho, revela alguma intimidade com o ato de representar.
O cenário, de Pâmela Vicenta e Thiago Néri, é formado por três painéis que apenas “ilustram” três ambientes distintos. Da mesma forma, os figurinos, também de Thiago Néri, junto com Marina Pereira, não apresentam qualquer proposta – falta-lhes unidade e significado. A iluminação de Márcia Rosa exibe os mesmos problemas das outras linguagens.
Búúú! Os Fantasminhas Atrapalhados é um exemplo de esforço e determinação de um grupo amador iniciante. Mas nem por isso pode ser recomendado a pais que estejam buscando colocar seus filhos em contato com o teatro. Pois correm o risco de afastarem a criança dessa arte.