Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 01.07.1978

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A Bruxa era Boa: Agora é antiga

A primeira conclusão ao ver esta bem cuidada montagem de A Bruxinha que era Boa é a seguinte: vai muito mal a dramaturgia infantil. O que, por sinal, não é novidade. Ou os produtores resolveram explorar o nome de Maria Clara Machado e, realizando uma boa montagem, faturar bem, ou, então, os empresários estão com a cabeça muito distante do que se propõe hoje, como texto, para uma plateia infantil. A Bruxinha que era Boa é, sem sombra de dúvidas, um dos textos mais infelizes desta autora tão consagrada. O maniqueísmo é apresentado na sua forma mais viciosa e deformante. O bem, que vence sempre, é branco, louro, bonito, simpático e um boneco cumpridor de regras sociais apresentadas como positiva, mas que levam apenas ao embrutecimento do ser humano; a falta de perspectiva crítica, o cotidiano assumido como coisa imutável, a adoção de valores sem questionamentos, a submissão, a passividade. Por outro lado, o mau é sempre antissocial, feio e antipático. Hoje, não creio que Maria Clara escrevesse uma peça defendendo tais ideias. Os Cigarras e Os Formigas, por exemplo, revela um novo momento da escritora, onde ainda há os bons e os maus cristalizados mas, em contrapartida, existe a defesa de um tipo de vida mais autêntico, Menos formalizado, mais humano.

A montagem, dirigida por Jorge Botelho, divide-se em dois momentos bem marcantes: antes e depois de a bruxinha ser aprisionada na torre. Na primeira parte a direção é a grande responsável pela comunicabilidade da encenação. Utilizando expressivamente luz, som, movimentos e cores, Jorge Botelho cria um espetáculo dinâmico, bem animado, no início pelo ritmo das Frenéticas e com uma boa seleção no comentário musical. Muito boa também é a opção pela criação de um clima descontraído e bem humorado dos bruxos, quebrando, desta forma, o terror trazido pelos maus, proposto no texto. A lamentar, apenas, a decisão de utilizar o play back, levando os atores a atitudes falsas. A segunda parte, entretanto, não parece dirigida pela mesma pessoa. Aos poucos o espetáculo vai ficando chocho e se arrastando, cada vez com menos pique, sem dinâmica, e termina para baixo, depois de uma primeira parte tão viva.

O elenco comporta-se bem, principalmente quando as bruxas atuam em conjunto. O ator que faz Pedrinho é que parece menos à vontade. Falta verdade às suas falas e ao seu comportamento físico. Todavia, ele tem um bom argumento a seu favor: é mais um infeliz obrigado a tocar flauta aos pulinhos. Expliquem-me: por que os pulinhos? Por quê?