Crítica publicada no Jornal da Tarde – Divirta-se
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 14.12.1985
Uma Bruxinha às Avessas
Ela não é má, nem perversa. É A Bruxinha que Era Boa, de Maria Clara Machado.
A Bruxinha que era Boa, de Maria Clara Machado, é uma das primeiras peças da autora premiada no concurso anual da então Prefeitura do Distrito Federal em 1955, mesmo ano da estreia de Pluft, o Fantasminha. Juntamente com Pluft é das mais conhecidas e encenadas. O grupo Querubim a escolheu para sua apresentação no Espaço Cultural Mambembe, no Paraíso. Uma boa escolha, sem dúvida.
A história nos parece hoje muito conhecida, tanto foi imitada e copiada pelo teatro infantil nestes 30 anos, o que, aliás, é um comprovante de seu acerto. Como faz em Pluft (“a gente existe?” pergunta o fantasminha), Maria Clara Machado inverte uma situação convencional das histórias infantis, num golpe dramático de grande efeito cênico e que surpreende o público infantil. As bruxas são tradicionalmente más e se preocupam em fazer maldades, atrapalhando a vida dos heróis das narrativas. Em A Bruxinha… a heroína é exatamente uma aprendiz de bruxa, que não consegue ser perversa e acaba auxiliando Pedrinho, o herói masculino. A novidade da história tem um desenvolvimento dramático seguro, como de hábito em Maria Clara, com o conflito se estabelecendo com o Bruxo Belzebu, chefe de todas as bruxas, e as outras feiticeiras. O próprio nome, Ângela, em oposição às outras, Caolha, Fedelha, Fedorosa e Fredegunda, já diferencia a heroína, que, além do mais, tem cabelos louros e rosto angelical. Pode-se destacar uma certa dose de moralismo no fundo da história, mas o seu desenvolvimento dramático não acentua esse aspecto.
A encenação do grupo Querubim, sob a direção de Eduardo Chagas Netto, faz algumas adaptações, incluindo um prólogo narrado pelas árvores da floresta, reduzindo as aprendizes de bruxa a três, e utilizando o vice bruxo, maquiado como um gnomo, para a abertura e encerramento dos atos, também reduzidos de três para dois. Apesar dessas modificações, o texto permanece com sua qualidade dramática, o que já garante um bom nível ao espetáculo. A montagem é cuidada, com um cenário florido para a floresta e acessórios, do diretor, figurinos adequados de Viviana Vaccari e uma iluminação funcional de Sérgio Barbosa. A coreografia a Carla Piffer não exige muito dos atores, mas estes parecem ter preparação na área. Além disso, os atores cantam diretamente, o que é sempre uma qualidade nos espetáculos infantis, ainda que sobre gravação, que a sonoplastia de Daniel Miori conseguiu adequar ao canto, não cobrindo a voz dos atores.
No elenco, Lara Cordula e Mano Netto fazem um simpático par central, Carla Piffer é uma excelente Bruxa Instrutora, Edson Landi um pomposo Bruxo Belzebu, Kátia Thomaz e Isabel Beirão são as outras aprendizes de bruxa, com Eduardo Chagas Netto como vice bruxo.