Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 18.07.1999
Magias de Maria Clara
A Bruxinha que era Boa, um dos clássicos do teatro infantil foi encenada pela primeira vez no teatro de Maria Clara Machado, o Tablado, em 1958. De lá para cá, junto com Pluft, o Fantasminha, da mesma autora, esta é a peça mais encenada por grupos amadores ou não de todo o país. O fascínio por caldeirões e poções mágicas, e mais ainda pelo toque mágico de Maria Clara, justifica plenamente a preferência do povo de teatro.
Também é verdade que fora do Tablado nem sempre as encenações dos textos de Maria Clara obedecem às regras do bom teatro infantil, mas como a autora já declarou diversas vezes, a interpretação é livre. Nesse caso, é mais do que bem-vinda uma remontagem do Tablado para seus clássicos. Beber na fonte é sempre uma boa recomendação.
Este ano a novidade fica com a direção de Cacá Mourthé, que, como ela mesma diz, optou não inventar muito e seguir o texto passo a passo. Mas, mesmo sem querer, o toque da diretora está no palco. A cena limpa de Cacá e seus personagens bem trabalhados têm retorno na atenção na atenção da plateia lotada do teatro. Nessa peça de história bem contada, o público segue a trama e em momento algum sua atenção é dispersada por cenas longas ou solo gratuito de ator. É o teatro que se comunica com seu público sem o “boa tarde garotada”. Teatro raro e feliz.
Com texto quarentão já bastante conhecido, Ângela é uma bruxinha boa que destoa do resto do grupo. Na prova final, onde o prêmio é a vassourinha a jato, revela toda a sua falta de talento para maldades em geral, mas acaba ganhando o coração do menino mais bonito da peça. O espetáculo ainda é cheio de surpresas para a jovem plateia, que embarca nessa história do bem e do mal sem o maniqueísmo de costume.
No palco, Guida Vianna é a Bruxa Instrutora, no auge do seu humor. Com movimentos rápidos e muito engraçados, a atriz dá o tom do espetáculo. Também dando um presente para a plateia, Luís Carlos Tourinho é o vice bruxo, em um papel sem texto, cheio de intenções. O par romântico, Bruxinha Ângela, a que era boa, e Pedrinho, o lenhador, estão muito bem representados por Viviana Rocha e Pedro Kosovski. O restante do elenco – Salvatore Giuliano, Janaína Moura, Daniela Ocampo, Débora Lamm e Marina Kosovski – segue o ritmo da maldade engraçadinha.
Nesse caldeirão de talentos, o Tablado se ilumina para receber o público com os cenários de Anna Letycia. São árvores recortadas ao fundo do palco, muito bem focadas na luz de Cadú Fávero. Os figurinos, também assinados por Letycia, seguem a linha do pretinho básico das bruxas, mas com adereços muito bem grifados de sapos, cobras e lagartos nos brochezinhos. A trilha animada de Carlos Cardoso fecha a técnica com harmonia.
A Bruxinha que era Boa é uma peça deliciosa para crianças que pega os adultos pela boa lembrança. Um prazer ir ao teatro com este palco.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)