A Cia Muito Franca de Teatro sobre o palco: surpresas no Museu da República.
Foto Cesar Galego

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.02.2000

 

 

Barra

Boa história de horror 

O título é uma referência brincalhona ao filme. Os Brutos Também Amam, mas desse ninguém lembra, muito menos as crianças que vão ao Teatro do Museu da República em busca de um terrorzinho confortável. Esse sim é encontrado logo na porta de entrada, com o teatro todo ambientado em veludo vermelho e uma profusão de velas acesas em castiçais macabros. As Bruxas também Amam, da Cia. Muito Franca de Teatro, não é só o terror que se anuncia pela estética. No caldeirão teatral tem uma boa mistura de história contada, referências ás telenovelas dos primórdios da TV, um pouco de dramalhão radiofônico e alguma mensagem de cidadania. Por essa última o público passa batido, afinal, no palco do trash, o melhor é seguir o exemplo de L. B. Mayer, o chefão dos tempos da Metro: quem quiser mandar alguma mensagem que use correios e telégrafos.

O texto de Nadege Jardim, correndo pela contramão, conta a história de Sâmara, a rainha bruxa do reino de Aracan, que tenta fazer de Liliane, uma linda princesa bruxa, sua sucessora. Como não há princesa sem príncipe, por lá aparece um lindo e louro, que declara guerra à Sâmara pelo amor de Lili. Tudo até então dentro do previsível. Mas Liliane não é “a Bruxinha que era boa”, e sim a Bruxinha que era burra, e com esse requisito não há amor que resista. A trama corre cheia de humor para o final inusitado, mas desejado pela plateia.

Bruno Bacelar, em sua primeira direção para a Cia. Muito Franca de Teatro, se sai muito bem na regência do espetáculo, ficando sua dificuldade apenas com a inexperiência de alguns atores que não embarcam na brincadeira como deveriam e tentam dar um ar mais comportado a seus personagens na trama. O grande trunfo do diretor em cena é, sem dúvida, a presença da vilã/mocinha Juliana Guimarães, uma atriz cheia de recursos cômicos desde os tempos do Tablado.

No restante do elenco, Afrânio Gomes é o fiel escudeiro um tanto exagerado – podia cortar o tom altíssimo da sua voz para brincar melhor em cena. Gustavo Torres, pouco a vontade no papel do espelho mágico, ainda vai descobrir as delícias de contracenar. Assim como Ana Paula Rodrigues, que cumpre burocraticamente seu papel de princesinha burra. Reiner Tenente, no entanto, faz boa figura no papel de príncipe galã. Com um corte recorte, tudo se ajeita.

Apostando na técnica como grande apoio à história contada, Bacelar faz com que cenários de André Sanches balancem no palco como nos tempos da TV Tupi. A luz de Ericeira Junior é um festival de pisca-pisca, como nos filmes de Karloff, e os figurinos de Gisela Batalha fazem um mix do teatrinho Trol com banda de rock dos 70. Uma pesquisa bem feita pela Cia. Recém-saída da CAL e chegando com vontade ao palco profissional.

As Bruxas Também Amam é um espetáculo de surpresas que vai ganhando público à medida que o espetáculo avança. Depois do impacto como “horror” cenográfico, fica uma boa história no palco.

Cotação: 2 estrelas (Bom)