Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 15.08.2014
Macbeth vai para o trono ou não vai?
Bruxas da Escócia é mais uma ótima adaptação de tragédia de Shakespeare, para crianças e jovens
Depois de transformar Othelo em Othelito, Rei Lear em O Bobo do Rei e Hamlet em O Príncipe da Dinamarca, sempre com muito talento e aceitação, a companhia Vagalum Tum Tum, capitaneada por Angelo Brandini, está nos mostrando agora a sua quarta adaptação de um clássico de William Shakespeare para o universo infanto-juvenil: Bruxas da Escócia, peça livremente inspirada em Macbeth. A encenação chegou a tempo de entrar na lista dos felizes acontecimentos teatrais que marcam em São Paulo a efeméride do ano: os 450 anos de nascimento do grande dramaturgo e poeta.
Como sempre, o grupo brilha e surpreende com seu sopro de renovação e, sobretudo, de ousadia. Outra tragédia, em que mortes e maldades se acumulam a cada cena, vira um espetáculo divertido, ágil, brincalhão – sem descaracterizar a trama e as principais características dos personagens do original. Brandini e sua companhia mais uma vez usam recursos de palhaçaria para dar leveza e ritmo à adaptação. As cenas de batalhas, por exemplo, são repletas de tombos, tapas, bofetadas, empurrões e escorregões – números típicos de clowns.
A trilha assinada por Fernando Escrich é fundamental no espetáculo, meio parecida com uma opereta, pontuando diferentemente cada personagem, e sempre em alto astral, como se fizesse uma clara opção pela alegria cadenciada. Repare também na competência dos figurinos de Christiane Galvan, que incluem criativos kilts, as saias masculinas escocesas – além de divertidas perucas, escudos, chapéus e espadas de madeira.
As mãos sujas de sangue da ‘malvada’ Lady Macbeth, a floresta que ‘anda’, a trindade de bruxas agourentas e visionárias – todas essas referências aparecem no espetáculo, para quem se preocupa com a fidelidade das adaptações, mas o importante é que elas surgem de formas inusitadas, ludicamente recriadas por um elenco afinadíssimo e homogêneo, em que todos têm oportunidade de mostrar talento: Anderson Spada, Christiane Galvan , Tereza Gontijo, Val Pires, Erickson Almeida e Layla Ruiz.
Você não vai acreditar na maravilhosa solução encontrada para resolver a questão do ‘excesso’ de mortes em uma peça infantil, nessa trama recheada de inveja, cobiça e disputa por poder. Tudo se dá como em números de mágica de circo, com a ajuda de uma espécie de trono-catapulta, armadilha que arremessa os corpos para bem longe. Genial, a ponto de podermos dizer que esse trono se torna o ‘personagem’ principal da montagem. Parabéns a todos. Salve São Shakespeare!
Serviço
Sesc Pompeia
Rua Clélia, 93
Tel. (11) 3871-7700
Sábados e domingos, às 12h. Até 3 de agosto (com nova temporada no período de 30 de agosto a 28 de setembro)
Ingressos: R$ 1,60 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes), R$ 4,00 (+60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 8,00 (inteira)