A artista canta e conta histórias, com seu estilo autoral, na Laura Alvim


Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 25.06.2005

 

 

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Saudoso, mas não saudosista

Em Brinquedos Cantados, Bia Bedran mantém sua proposta de resgate de tradições

Em cartaz no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, Bia Bedran lança seu novo CD no espetáculo musical Brinquedos Cantados. O repertório, as composições, a forma de cantar e contar histórias, a forma de se comunicar com o público e até mesmo a estética de seus espetáculos têm sua assinatura. É Bia em cena. Seu trabalho se caracteriza pela tenaz proposta de resgate da cultura popular brasileira, seja por meio das músicas do folclore ou dos brinquedos e contos populares que pesquisa. E ela os coloca no palco para que as novas gerações não percam o contato com as raízes  brasileiras.

As músicas nos lembram antigas cantigas, modinhas, um som saudoso, mas não saudosista e que atinge as crianças hoje acostumadas aos últimos hits das paradas de sucesso. A estrutura é sempre a mesma nos seus espetáculos: Bia canta e conta. Este é seu estilo, e há coisas que ela diz e faz no palco que só ela é capaz de fazer e de dizer.

Bia tem um público fiel que já passa de geração a geração. As crianças na plateia cantam suas músicas, acompanhadas por pais, que tentam diversificar a experiência musical de seus  filhos. Com direção, roteiro e músicas de Bia Bedran, Brinquedos Cantados é resultado de intenso estudo. Os arranjos e o teclado ficam por conta de Ricardo Pacheco, a percussão com Paulão Menezes e o violino e a rabeca são tocados por Guilherme Bedran.

O foco central do espetáculo são as músicas, mas Bia não faz apenas um show musical. Ela interage com seu público, com um ar intimista, de quem os conhece há muitos anos. Por ser também atriz, tem um despojamento cênico que a aproxima da plateia. Além disso, é uma excelente contadora de histórias – neste espetáculo, conta o conto popular Ivan, o Folgazão e diz de uma forma absolutamente informal e, por conseguinte cativante, o poema A Bonecade Olavo Bilac.

Além dos músicos, em cena, Bia conta com duas atrizes, Namir Lagos e Lucy Ribeiro, que  ilustram de forma bem humorada as músicas e os jogos em cena. A estética do espetáculo remete a um quarto de menina, o seu universo: seus brinquedos, suas músicas preferidas, seus desenhos, sua boneca.

O espetáculo tem uma concepção estética que para muitos seria considerada kitsch ou mesmo “brega”, mas é apenas a memória afetiva de pequenos elementos do universo que Bia quer apresentar às crianças: joaninhas, borboletas, passarinhos, flores. É o espaço lúdico de uma criança, formas simples, realistas, em tons de azul e rosa, num cenário assinado por Thaís Clark que tem a luz sempre competente de Djalma Amaral.

Tahis Clark também faz os bonecos e assina os adereços, ao lado de Maria José Quintas, Wandirce Wöhrle e Wanda Bedran. No repertório, Bia inclui algumas brincadeiras populares cantadas, que acabaram dando nome ao espetáculo: As Caveiras, que brinca com o medo; Tangolomango e De Abóbora se faz Melão já quase esquecidas, até mesmo pelos pais e avós do público mirim, que acompanha Bia cantando, dançando, fazendo coreografias.

O repertório popular que revela uma ingenuidade infantil sem internet , sem TV nem videogames que Bia honesta e corajosamente preserva, divulga e se mantém vivo para seu público. Com o apoio apenas do seu público fiel, Bia encabeça uma verdadeira resistência cultural, há mais de vinte anos, nos palcos cariocas.