Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 19.09.1981

Barra

O valor da ousadia

Brincando com Bolas e Balões, em cartaz no Teatro Glauce Rocha, tem uma proposta bem interessante: a realização de um espetáculo aproveitando criativamente as inúmeras possibilidades de transformação dos balões de encher. Ao mesmo tempo, a encenação pretende dar continuidade a uma pesquisa de linguagem que o autor diretor Luis Sorel vem desenvolvendo (no início do ano montou o excelente Vamos Brincar de Brincar, no Gláucio Gil) e que acabou de levá-lo aos Estados Unidos para um pequeno estágio com os Mumenschantez. Desta vez, entretanto entre as possibilidades da proposta e as verdades da realização vai uma distância muito grande. Brincando com Bolas e Balões é um espetáculo que se frustra: ele se desenvolve de um modo muito frio e parece que uma das causas dessa frieza está na própria elaboração do roteiro. Apesar da intenção de Sorel em passar para o espectador uma historinha com continuidade, o que chega ao público é, apenas, uma reunião de sketches isolados. É evidente que se pode fazer um espetáculo excelente sem história e com sketches, desde que haja um envolvimento do público com cada cena. Não é o que acontece com Brincando com Bolas e Balões. A concepção das cenas é muito esquemática, pobre, esquelética quase. As situações não são suficientemente desenvolvidas e fica sempre a impressão de estar faltando alguma coisa. Apesar de momentos muito criativos com os balões (a cabeleira / a capa/ o soutien), falta criatividade ao espetáculo como um todo. As cenas não têm pique, não têm emoções, não tem humor, enfim, não trazem elementos que levem o espectador a ter interesse em manter a comunicação. Inicialmente, o público é pego pela linguagem um tanto diferente; mas, esgotado o fator surpresa, o interesse vai caindo. Contribui ainda mais para isso a falta de lubrificação entre um sketche (sei que não é sketche, mas essa é a impressão que fica) e outro, e o espetáculo se apresenta de forma muito descontinua. Não se consegue relacionar bem as cenas isoladas do gato e do cachorro com as demais. Também fica difícil fazer uma ligação entre a parte inicial e o “show de variedades”. Os melhores momentos do espetáculo são as cenas da cantora lírica e a da burocracia. Temos, em Brincando com Bolas e Balões a tentativa de quem ousou e não deu certo. Que continue ousando.