Critica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 17.01.1999
Adaptação livre que serve para divertir
Na linha dos cult movies, Grease, fonte inspiradora do espetáculo teatral Brilhantina, em cartaz no Teatro Vanucci, tem fãs tão ardorosos quanto A Malvada de Bette Davis, Casablanca de Bogart, ou ainda o Rock Horror de todo mundo. E fã vai às últimas consequências quando elege uma paixão. Sabem tudo sobre a obra, decoram os diálogos e, às vezes, até vestem o personagem na vida real. Os de Grease são imbatíveis no estilo. Se pudessem, montavam o espetáculo na íntegra, mesmo sabendo que a versão da Broadway foi um fracasso na temporada. Como a questão dos direitos autorais é complicada, criam versões inspiradas e se divertem. Brilhantina é assim.
O texto de Francis Barros e Vanessa Paiva segue linearmente as situações da obra inspiradora, numa versão um tanto fantasiosa para a realidade nacional. Ambientado no Rio de Janeiro de 1959, os autores se limitaram a substituir Riddel High School pelo Colégio Senador Correa, deixando de lado todo o clima romântico da cidade da época, para apostar numa simples tradução truncada, e às vezes censurada, dos coleguinhas americanos. Assim, Rizzo, que no original acha que está grávida, aqui é acusada de frígida, Vince Fontaine, o locutor das multidões, é tirado da peça, e com ele some o anjo protetor de Francis. Eugene, um personagem episódico no filme, é a surpresa da peça.
O diretor do espetáculo, Sandro Cardoso, que já vinha ensaiando os passinhos do rock desde a montagem de Banana Split, um megassucesso das matinês do mesmo Teatro Vanucci, criou seu espetáculo em dez meses de ensaio com produção Zero, onde todo o elenco teve de “rockar e ralar” para vestir os T-Birds e as Pink Ladies. Com todo o esforço, fica no ar um tantinho de saudades dos splits. Sandro, que consegue uma ótima interpretação no seu Daniel Zucco, protagonista da peça, não teve a mesma sorte com seu jovem elenco. Principalmente a ala feminina do cast, que derrapa nas interpretações que vão do extremo naturalismo (Francis Barros como Sandy), à caricatura (Bia Besser como Francis). Destacando-se nas ladies, Patrícia Ubeda, numa engraçada Janette. Já os T-Birds se saem melhor no palco. Entre eles, Cristiano Bittencourt (Henrique) e Genilson Moraes (Tony).
Se a direção de atores se complica, Sandro Cardoso se sai muito bem na direção do espetáculo. As cenas são bem divididas e harmônicas como pede o compasso desse rock n’ roll. Também muito bem feita e gravada em arranjos super-dançantes, a trilha do espetáculo traz saudade do filme. O tal do movie que ninguém sabe por que vira cult de uma hora para oura. E nesse, como em outros tantos casos, não se discute o inexplicável.
Brilhantina é um espetáculo para fãs e assim deve ser assistido. Qualquer dúvida é só lembrar do filme, ler o livro (ele existe) e cantar junto à trilha. E principalmente se divertir.
Cotação: 2 estrelas. (Bom)