Georgiana e Bernardo são ofuscados


Crítica publicada no Jornal do Brasil Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 03.02.1996

 

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Clássico bem transportado

A ideia de trazer para a atualização a ação de um clássico não é muito nova. Lá se vai bem uns 20 anos, aquela época em que as tribos se nos dividiam que faziam teatro e os que transavam fotografias. Não era raro aparecer, no fim da noite, alguém com uma ideia revolucionária de montar um Shakespeare de terno e gravata, ou um Wedkind ambientado em Ipanema.

Branca de Neve em Chicago, em cartaz no Teatro Leblon, é também um clássico em nova versão. Porém, o transporte da história para Chicago anos 40 é um achado que não só enriquece a trama, com personagens popularizados pelo cinema, como ganha a musicalidade deliciosa da era das grandes orquestras e do destaque do crooner.

O argumento de José Wilker, muito bem aproveitado por Marcelo Saback no texto final, chega ao palco cheio de referências cinematográficas, sem que com isso a história original seja descartada. As tramas de amor, de inveja, solidariedade, enfim todos os sentimentos que fazem parte da vida do ser humano e que dão eternidade aos contos de fadas continuam intactas nesta versão musical.

Na Chicago dos anos 40, um rico industrial se casa com uma moça da sociedade local e tem uma filha. Por obra do destino, o milionário fica viúvo e torna a se casar com Miss Chicago 1939, a caça-dotes Scarlett Gelo, íntima da máfia local. Por obra, desta vez, não tão do destino, o milionário também morre, e Scarlett, além de herdar sua fortuna, fica responsável pela enteada Branca Mary Lee. O resto da história, bastante conhecida, continua com Branca sendo levada por Sara, a governanta de Scarlett, que assume o papel original do caçador e também poupa a vida de Branca. Dessa vez, porém, a mocinha não vai para a floresta encontrar os sete anões. Vai ganhar ávida cantando num night club, onde tudo acontece como deveria.

O texto de Saback e, principalmente, as músicas que criou para o espetáculo são super atraentes e dinâmicas. A direção e as coreografias de Eduardo Martini, completamente sintonizadas com os novos personagens, cria cenas inspiradas sem espaço para qualquer falha de ator,

Em tempo exato, o elenco corresponde ao desafio. Stella Maria Rodrigues, como Scarlet, canta e representa tomando para si os grandes momentos do espetáculo. Thereza Piffer dá a sua quase vilã contornos que fazem crescer o personagem. O talento das malvadas acaba ofuscando o brilho do par romântico (Georgiana Góes e Bernardo Lobo). O que não acontece com os sete irmãos – Felipe Martins, Marco Rodrigo, Cláudia Rodrigues, Carlos Eduardo Vieira, Fernando Escrich, Mário Mendes e Kiko Mascarenhas, este último numa interessante citação a Harpo Marx ao fazer Dundum, versão do mudo personagem Dunga.

Os figurinos de Ricardo Venâncio são bastante teatrais e mantêm o clima da época. A iluminação de Paulo César Medeiros, no entanto, é prejudicada pelo telão de vídeo usado como parte do cenário. Além de problemas na operação, o recurso se torna pouco eficaz, já que tem que ser complementado por pesados adereços cênicos. Esses detalhes, porém, não impedem que Branca de Neve em Chicago, seja um divertido musical, para um público de qualquer idade.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)