Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 18.05.1975

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Branca de Neve e os Sete Anões

Os responsáveis pelo Grupo Carroussel não deveriam nunca ignorar o fato de que têm uma grande importância no panorama do teatro infantil carioca. Na medida em que realiza uma atividade empresarial bem estruturada, suas sessões estão sempre lotadas; e, como consegue levar ao teatro um público imenso, o Grupo Carroussel, deveria repensar um pouco seu trabalho para que não ensine que ser garçom é um castigo (ver D. Baratinha quer Casar) ou para que não se esqueça que um mínimo de qualidade é sempre necessário. É preciso que o Grupo Carroussel se convença de que, com o grande público que atrai (com brindes ou sem brindes) e, sendo este público formado por crianças, ele tem uma responsabilidade na formação de seres humanos, num sentido geral, e de pessoas que poderão ser um futuro público de teatro, em termos mais específicos.

No caso de Branca de Neve e os Sete Anões tais observações não são consideradas em momento algum. A encenação tem falhas primárias (elenco mal dirigido; ausência de clima; inexistência de ritmo; luz e música totalmente arbitrárias); o cenário é o mesmo da outra peça que o grupo esta montando (D. Baratinha), permanecendo os mesmos objetos não identificáveis na parede (e a sacada balança quando os atores se encostam); os figurinos são de peças antigas (a roupa do caçador é uma mistura de bispo com arqueiro); o texto, também de Roberto de Castro, não tem compromisso algum com brilhantismo, poesia, vivacidade, expressividade ou com personagens bem estruturados; os atores, totalmente desorientados, não sabem improvisar quando o espetáculo é interrompido, seja pela participação agressiva das crianças, seja por falhas técnicas (o microfone que não funcionava, por exemplo) E novamente Esther Ferreira consegue se destacar, neste show de negligência que é o espetáculo, com a insistência em dar um pouco de vida a um personagem falho e totalmente perdido naquele primarismo coletivo.

Seria bastante útil que grupos como o Carroussel, que tem uma boa estrutura de produção, se empenhassem em unir lucro à qualidade. O benefício seria coletivo.

Recomendações:

Com pequenas restrições: A Viagem do Barquinho, Criançando, Você Tem um Caleidoscópio?, Pluft, o Fantasminha.