Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 16.01.2015
Romantismo de Branca de Neve em alto estilo
Com ingressos caros e produção rica, o clássico encanta mães e filhas na versão caprichada de Billy Bond
Na semana passada, escrevi aqui sobre clássicos contos infantis montados em São Paulo sem o menor rigor, sem criatividade, sem talento, em produções paupérrimas de recursos. No fim de semana, depois de ter recebido muitas manifestações de apoio nas redes sociais e por email (as pessoas da classe artística me escreveram basicamente para me dizer que prestei um serviço ao teatro), resolvi ir prestigiar outra montagem de conto clássico, porém em condições opostas de produção: fui ver a riquíssima e produzidíssima e endinheiradíssima versão de Branca de Neve e os Sete Anões, no palco do Teatro Bradesco, em São Paulo, com a direção sempre estelar de Billy Bond – e, claro, com ingressos caríssimos, limitando sobremaneira o acesso à grande atração.
Gostei do que vi. Mas, de saída, é preciso que eu diga: não gostei por causa do luxo e das condições maravilhosas de produção. Gostei pelo rigor, pelo talento, por tratarem o público com o respeito que ele merece – sobretudo as crianças, que conhecem tão bem essa fábula. Faço questão de deixar isso claro: já vi produções pobres muito criativas, que elogiei muito, assim como já vi produções ricas extremamente ruins, que foram alvo de críticas bem pesadas de minha parte. Conclusão importante: não é o tamanho/dinheiro da produção que conta.
É claro que vocês poderão me dizer: com mais recursos, é possível pensar em ter mais capricho, mais requinte, mais cuidado com cenografia, figurinos, luz e assim por diante. Mas muitos diretores erram mesmo tendo à mão todas essas possibilidades. E muitos grupos acertam mesmo não tendo à disposição um orçamento digno. Esse é o ponto. Talento e criatividade devem sempre falar mais alto, assim como o respeito à inteligência e à perspicácia das crianças.
Depois de montar Cinderela, A Bela e a Fera e Natal Mágico em São Paulo, o diretor Billy Bond está de volta nestas férias de verão com sua versão caprichadíssima de Branca de Neve, a saber: 40 atores em cena, 180 figurinos, cinco cenários grandiosos, projeções em alta resolução e efeitos especiais em 3D, muito gelo seco, chuvas e neve artificiais despejadas em cima do público, 180 metros de LED (tecnologia usada nos musicais da Broadway) e até aromas, para que a criança tenha a sensação de estar dentro do espetáculo. Ao todo, são 18 toneladas de equipamento.
Tudo isso poderia descambar para o piegas, o cafona, o brega. Mas Billy Bond segurou as rédeas do exagero e fincou forças na fidelidade ao conto clássico, que aparece aqui muito bem narrado, sem o perigo maior de todos, que seria o de simplesmente surgir como uma cópia mal e porcamente roteirizada do antológico filme da Disney.
Há o cuidado em apresentar aspectos novos, mas que casem com a estrutura do conto. Como, por exemplo, caprichar no romantismo das cenas finais. A peça não termina quando o príncipe beija Branca de Neve e a desperta do feitiço da maçã envenenada. A narrativa prossegue até o casamento dos dois, quando surgem os acordes da famosa Marcha Nupcial, de Mendelssohn, e Branca aparece na plateia vestida de noiva, totalmente de branco, com véu e grinalda. As meninas chegam ao êxtase neste momento. Seus olhinhos brilham de um jeito comovente. Não há nada mais lindo do que ver as crianças totalmente mergulhadas no encanto, no sonho e na fantasia de uma fábula bem estruturada.
Os atores são bons: dançam e cantam muito bem. O texto tem diálogos bem escritos, priorizando a fantasia e a imaginação. O público ganha óculos 3D de papelão para ver as imagens no telão, como a noite em que Branca se perde na floresta, a morte assustadora da bruxa e as intervenções divertidas do espelho mágico. Não é só teatro? Não, não é só teatro. É um grande e vistoso espetáculo de linguagem mista. Trata-se, na verdade, da mesma montagem já vista por quase 300 mil espectadores – estreou em São Paulo em 2012 e viajou por nove cidades do Brasil como Rio, Porto Alegre, Recife e Salvador, além de fazer apresentações na Argentina, Chile e Peru. O próximo projeto do diretor é Alice no País das Maravilhas, que deve ganhar os palcos de todo o País a partir de abril. Que venha.
Serviço
Temporada: Até 1.º de fevereiro
Horários: Sábados às 16h30 e 19h e domingos às 16h30
(No último fim de semana da temporada, ou seja, dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro, o sábado terá somente a sessão das 16h30; no domingo serão realizadas duas sessões: 16h30 e 19h)
Local: Teatro Bradesco (Rua Turiassú, 2100 / 3º piso – Bourbon Shopping São Paulo)
Ingressos: R$ 175,00 (plateia de A-N), R$ 135,00 (camarote), R$ 135,00 (plateia de O-W), R$ 100,00 (balcão nobre), R$ 80,00 (frisa 1º andar), R$ 60,00 (frisa 2º andar), R$ 40,00 (frisa 3º andar)
Classificação: Livre
Duração: 100 minutos