Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 19.09.2004

 

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Constrangedora Branca de Neve 

Clássico ganha montagem deplorável 

É profundamente constrangedor falar de Branca de Neve e os Sete Anões, em cartaz até o próximo domingo no Teatro Leblon. Por outro lado, tal tarefa torna-se fundamental para alertar os pais. A peça é um total desrespeito à história tradicional, ao público, ao teatro e ao próprio elenco, um grupo de adolescentes que é colocado no palco sem a menor condição de atuar.

Peças como essa prestam desserviço às crianças e ao teatro 

Com adaptação de Silvio Monte e direção de Ivan Martins utiliza da história original apenas um fio narrativo, acrescentando dois corvos narradores, que fazem às vezes de contrarregras, improvisando. Na verdade, eles tentam distrair o público da inexistência de história e de teatro. Em cena, um gênio do espelho com os trejeitos estereotipados de um homossexual em busca de humor fácil.

Os cenários, de Teca Fichinski, são quatro painéis pessimamente construídos sobre rodízios que dão a impressão que vão cair a qualquer momento. Entram e saem cambaleantes de cena inúmeras vezes e um deles acabou realmente caindo sobre o corvo-contrarregra no dia que assistimos ao espetáculo. De um lado do painel, garrafas pet recicladas tentavam criar a atmosfera do palácio real. Do outro lado, uma “pintura de arte” primária reproduz a casa dos sete anões, além de uma cama emperrada e um sofá cujos rodízios também não funcionam.

A música, de Marcelo Neves e Inês Viana, é quase inaudível pela péssima qualidade da gravação, afora o fato de ser pessimamente dublada. Mas o pior acontece quando entram os sete anões no palco: crianças portando uma burka colorida – simplesmente grotesco.

Os cacos, inumeráveis, tentam provocar o riso. As crianças olham, claro, aquela movimentação excessiva, como olham o trânsito na rua. Os pais, constrangidos, são o retrato de uma plateia enganada. Ao fim do espetáculo, a última frase é: “melhor mesmo é a gente ir tomar banho no piscinão de Ramos”. Infelizmente, talvez esta seja a única frase sensata do espetáculo.

Diante de um montagem como essa, a criança que vai ao teatro pela primeira vez com certeza não terá uma boa impressão dessa arte. Também o pai que não costuma frequentar as casas de espetáculo não entende por que ouve tanto dizerem que o teatro é importante na formação da criança. Por sua vez, o Teatro Leblon, não pode se eximir da responsabilidade. É preciso escolher bem o que será levado ao palco. E com temas clássicos, o cuidado deve ser redobrado.