Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 21.01.2020

Fotos: Mariana Rocha

Grupo Etc. e Tal capricha em sua especialidade: a linguagem corporal

Confira com a família uma divertida montagem de Branca de Neve em que não se ouve ‘Espelho, espelho meu!”, pois é um espetáculo pantomímico sem palavras.

Eis aqui uma ótima opção de teatro para crianças de todas as idades neste início do ano: uma peça que vai mostrar para seus filhos que teatro se faz de diversas formas, modalidades, sem limites de criatividade. Esta ¿Branca de Neve?, do Centro Teatral e Etc e Tal, por exemplo, assim cheia de interrogações, mostra que um clássico tão conhecido pode ser muito bem (re)contado sem palavras, apenas com gestos, mímicas, expressões corporais, sombras, músicas instrumentais e alguns poucos adereços cenográficos. Talvez valesse a pena, para crianças menores, você relembrar com elas – a caminho do teatro – de todas as etapas da fábula (editada pelos Irmãos Grimm em 1819), para facilitar que esses pequeninos identifiquem rapidamente as cenas, já que não há narração nem diálogos. Mas isso fica a seu critério, pois também pode ser um exercício bem rico que as crianças compreendam sozinhas toda a trama silenciosa, reconhecendo o que se passa, cena a cena, sem a ajuda dos adultos.

Outro aspecto desta montagem pantomímica é que a fábula é toda desenvolvida dramaturgicamente a partir do olhar dos serviçais do castelo. Duvido que você não se encante com a forma como esses dois trapalhões servos da rainha má descrevem o crescimento de Branca de Neve, de bebê a moça casadoira. A mímica dá conta de anos e anos da vida da princesinha. Você vai rir muito com os percalços dos dois criados na lida diária com a menina até ela crescer – e tudo se passa com muito ritmo e agilidade no palco, numa cena bem rápida, mas que faz você enxergar passo a passo a transformação da criança em linda princesa.

Tiro o chapéu para o humor do espetáculo. Que competência! É agradável, sutil, brincalhão, apoiado, claro, em gags físicas, já que não há palavras. O trio de atores – Melissa Teles-Lôbo, Marcio Moura e Alvaro Assad – está incrível em suas máscaras faciais, nos jeitos de andar, nos trejeitos de cada personagem. Corpos que falam – e falam não só com técnica, mas com emoção e vivacidade espontâneas.

Impossível não notar também a agilidade na troca de personagens – o trio faz nada menos do que 20 tipos diferentes. Isso se dá graças ao criativo e harmonioso trabalho entre a figurinista e aderecista Fernanda Sabino e o visagismo do premiado Cleber de Oliveira. A trilha sonora original e instrumental composta por Joaquim de Paula também merece menção. Repare como as onomatopeias (reproduções de sons usando fonemas) pronunciadas pelo trio de atores auxiliam a narrativa, funcionando como recurso de sonoplastia.

A Cia. Etc e Tal já produziu espetáculos com cenografia vistosa, detalhista, de encher os olhos, como foi em João o Alfaiate – Um herói inusitado, seu espetáculo anterior. Desta vez, não há cenário nenhum. O fundo, no palco do Sesc Pompeia, é apenas preenchido com cortinas pretas – o que, a meu ver, a despeito de toda a criatividade que transcorre na boca de cena, confere à montagem um ar de improvisada e mal-acabada. Cortinas pretas ao fundo do palco sempre me causam essa impressão, o que é uma pena, pois, em todos os outros quesitos, não há nada de mal-acabado, muito ao contrário. Sorte que há as projeções para salvar um pouco essa impressão de descuido. Prestigiem. O ano começou muito bem com esta ¿Branca de Neve? dirigida pelo reconhecido talento de Alvaro Assad.

Serviço

Local: Teatro do Sesc Pompeia
Endereço: Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo
Telefone: (11) 3871-7700
Capacidade: 387 lugares
Quando: Sábados, às 12h
Duração: 45 minutos
Classificação indicativa: Livre
Ingressos: Grátis para menores de 12 anos. R$ 6 (credencial do Sesc), R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira)
Temporada: De 11 de janeiro até 02 de fevereiro de 2020