Publicada na Tribuna da Imprensa – Coluna Teatro
Por Claude Vincent – Rio de Janeiro – 19.09.1950
Branca de Neve
Diz o Dr. Darcy Evangelista, autoridade em matéria de puericultura, que a criança gosta mais da coisa que já conhece. Isso explicaria em parte o sucesso, de Branca de Neve no Teatro Copacabana, domingo passado. Mas a mão de D. Lucia Benedetti andou por aí, a história tem modificações, algumas de uma poesia que chegou a tirar os momentos negros da história Grimm.
O Espelho Mágico torna-se pessoa, para devolver a Botabaixo o coração que a Rainha Má lhe roubara – assim ele tem pena da Branca, o entrega pessoalmente a Pinga Pinga, o Anão da Floresta. Também o coração da Rainha, novinho em folha está encontrado de baixo de uma pedra onde um feiticeiro o escondera… Assim sua morte horrenda fica afastada de maneira bem lógica – agiu mal porque não tinha coração!
Existem apenas dois erros psicológicos A Madrinha que se disfarça de velhinha para vender a maçã envenenada “deve” ser a Madrasta. Não adianta disfarçar Aia, as crianças são bem Inteligentes, e ficam numa dúvida…
Outro erro foi à caça – corrida por Botabaixo na plateia, atrás de Branca, sabre na mão. Para uma criança tímida o momento deve ser de espanto!
A montagem foi cuidada, os cenários que Pernambuco de Oliveira, num gesto de camaradagem, ajudou a pintar na última hora, foram de um Nilson Penna, já muito mais experimentado que na época do Casaco Encantado, e a sua casa dos Anões na Floresta foi espontaneamente aplaudida pelas crianças. As roupas da Rainha e do Príncipe, muito ricas, lembram as dos contos de Perrault, enquanto a aparência dos Anões corresponde com a da fita do Disney.
O elenco trabalhou com acerto. Mara Rúbia é lindíssima na Rainha Má. Darcy Reis é um Espelho Bonachão, mas a expressão do seu rosto, segundo a escritora Dinah Silveira de Queiroz, foi mais divertida sem maquiagem de purpurina, nos ensaios. Magda Pietro (seu nome não aparece no programa) foi uma Vovozinha de rendas, encantadora (seria bom lhe dar um texto maior?). Laís Perez, que canta lindamente, teve que cantar falso, e o fez muito bem. Jardel Filho é um Príncipe Azul que tem uma cena engraçada, porque D. Lucia sabe que as crianças não gostam desse negócio de gente se beijando.”Nunca fiz isso na minha vida”, diz o Príncipe, pulando da corda, ou será que é Jardel Filho quem fala? Pinga Pinga (Arnaldo Rio) e José Valluzzi (no Botabaixo), conseguiram o interesse imediato de sua plateia.
A sonoplastia precisa de cuidados e a música não é realmente de Waldemir Henrique. Mas de maneira geral Branca de Neve, foi um começo auspicioso do Teatro Monteiro Lobato – a melhor prova disso é a colaboração das crianças com o elenco. Duas vezes numa semana, as histórias de D. Lúcia as encantaram…