Crítica publicada em O Globo – O Globo nos Teatros
Por Gustavo Doria – Rio de Janeiro – 21.09.1950
Branca de Neve
Branca de Neve com a sua bela história, deve ser um rico assunto para um, escritor imaginoso que se disponha a realizar, em colaboração com um diretor ousado, um espetáculo de grandes proporções, com príncipes, reis, rainhas, carruagens, floresta encantada e anões, que moram em casas de vidro, etc. A lenda, por demais conhecida e ainda mais cinematografada por Walt Disney, já teve também aqui, parece, adaptadores para o teatro. Pois, é essa a historia, que a escritora Lucia Benedetti vem de adaptar para um de nossos elencos.
Lucia Benedetti vem se dedicando, desde há algum tempo, à literatura teatral infantil. Mas quer nos parecer que, embora evidenciando qualidades de autor inegáveis, o teatro de Lucia Benedetti obterá rendimento maior quando dedicado a adultos.
A não ser O Casaco Encantado, original em que, na verdade, nos mostrou um belo espetáculo para crianças, os que se lhe seguiram (ainda não assistimos A Menina nas Nuvens), não apresentam as mesmas características, como essa Branca de Neve, cujo dois primeiros atos chegam a interessar a plateia infantil, naquele excesso de dialogo com que se perde a maldade da rainha e naqueles preparativos para o sacrifício de Branca de Neve, por parte do Botabaixo.
E o espetáculo para as crianças verdadeiramente começa quando os anõezinhos entram em cena, cheios de algazarra. Ai, sim, as crianças estão diante de elementos que conhecem e identificam, não mais são obrigadas a se deterem exclusivamente num diálogo pouco familiar.
É bem verdade que a autora deve ter lutado com uma certa economia de elementos, que impede a realização de um espetáculo de maiores proporções.
Mas, quanto a isso, ela resolveria o caso lançando mão de sua bela imaginação como escritora (de que já deu provas no citado Casaco Encantado) e abandonando um texto tão reconhecido como a Branca de Neve e tão caro às crianças. Serviu o original, porém, para a plateia de um novo conjunto destinado ao teatro Infantil e que desta vez tem a direção de Dary Reis.
Ao lado de Dary Reis esta um punhado de multo bons elementos, entre os quais se destacam Nicete Bruno, a Branca de Neve ideal, Mara Rúbia que, apesar de boa atriz, não consegue fazer com que ninguém acredite ser realmente uma rainha má; Laís Peres muito bem como aia. Jardel Filho, no príncipe, e José ValIuzi, um bom lenhador. O anãozinho, Arnaldo Rios, sai-se a contento, secundado pelos demais garotos nos quais se sente à mão de D. Ester Leão, essa magnífica ensaiadora que em Branca de Neve não se pode mostrar em toda a sua plenitude, amarrada que está a um texto que lhe oferece pouca margem.
Nilson Pena encarregou-se dos cenários e dos figurinos. Sente-se em seu trabalho um tom de improvisação e de falta de unidade, não somente no que se concerne a desenho de cenários como vestuários.