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Falando ainda de tecnologia, vamos falar da Internet. A Internet é apenas um veículo. No caso específico, é um veículo e serve para divulgação e o teatro deve usá-la como tal.

O que podemos observar dentro da Internet é que o teatro está inserido. Se fizemos uma pesquisa rápida nos mecanismos de busca, no radar UOL por exemplo, que é um instrumento de busca, podemos encontrar 8000 ocorrências de “sites” sobre a palavra teatro. Isso significa que o teatro está entrando na Internet. Procurando em outros mecanismos, aqui dentro do Brasil, nós podemos encontrar algo em torno de 800 a 1000 “sites” sobre o tema. Verificando estes “sites” podemos observar um problema levantado pelo nosso amigo Zé Henrique, que é a dificuldade do teatro de entender ou de buscar essa nova linguagem. O que encontramos em muitos casos são “sites” que foram colocados no ar por puro modismo e que depois foram abandonados. O “site”, como é um instrumento de informação, tem que estar constantemente atualizado, estar sempre em dia.

O que nós encontramos na área de teatro, assim como em outras áreas, mas sobretudo no teatro, são os “sites” bem feitos, bem desenhados, bem pensados mas a última atualização deles foi à um ano atrás. Estão totalmente desatualizados.

Outro aspecto interessante de se observar em “sites” de teatro é a busca por se colocar dentro da linguagem da Internet, que é muito própria e muito nova também, uma linguagem do teatro.

Muitos colocam uma linguagem como se tivessem fazendo teatro dentro da Internet, sem um objetivo específico, e dessa forma se perdem. Grande parte desses “sites” são perdidos. É claro que existem exceções.

Existem “sites” cujo objetivo é específico e são bem solucionados. Um deles o “site” do CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude. Uma vez que o CBTIJ teve uma proposta específica que é colocar uma fonte de pesquisa sobre o teatro jovem, foi exatamente dentro desse raciocínio que foi desenhado, para ser uma fonte de pesquisa. Isso é importante dentro dessa tecnologia que é a Internet: a objetividade. É saber exatamente o que se quer, como se quer e o resultado que se pretende. É fundamental que se tenha em mente o que se está esperando de determinado instrumento.

Pensando desta forma o veículo é perfeito, podemos ter tudo à mão. Se quisermos montar peças na Internet poderemos montar, se for esse nosso interesse, se for essa nossa busca e se tivermos público para tanto. Se quisermos trazer agendas ou fazermos estudos, enfim, pode-se colocar de tudo num “site”, e por essa pesquisa que fizemos, podemos notar que existem “sites” de cenografia, por exemplo, interessantes mas que ainda falham em termos de linguagem. Acontece que pegam um jornal sobre cenografia e colocam na Internet. Bem não este o caminho. Temos que entender as linguagens. O jornal é muito bom escrito. O livro é muito bom escrito. Na Internet isso fica mais complicado porque tem que pressupor que a pessoa vá ficar ali na frente da tela com aquela luzinha incomodando, ela vai clicando o “mouse” e vai chegar a um ponto que vai dar sono. Ela vai cansar e parar. Se houver a opção dessa pessoa efetuar um “down load” para ela baixar esse arquivo, imprimir ou fazer qualquer coisa, ótimo. Essa pessoa vai imprimir e depois vai ler, caso contrário, se não houver essa opção, vai se tornar difícil manter a proposta.

É muito importante dentro da Internet entender o veículo, a proposta que é este veículo.

Trabalhar dentro da Internet não é um bicho de sete cabeças, é uma coisa até muito simples. Podemos até dizer que fácil e relativamente barato por ser bastante democrático, tanto no aspecto de hospedagem, quanto no aspecto de confecção do “site”, incluindo a engenharia e arquitetura de navegação. Acho que em princípio seria isso o que tinha a dizer, uma coisa bem simples sobre a Internet, e que podemos discutir mais adiante.

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Thelmo Ribeiro
Diretor de Marketing

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Obs.
Este texto foi retirado da mesa redonda InterneTEATRO, ocorrida em 20 de outubro de 2001, às 19h, no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em Santa Tereza. Este encontro foi coordenado pelo CBTIJ, e fez parte da II Mostra de Teatro de Animação BOM DE BONECO, realizada por Bonecos em Ação, sob a tutela de Susanita Freire e Marcílio Barroco.

Além da palestra acima, foram proferidas as seguintes palestras:

A Criança na Tela do Teatro (Alice Koenow)
Tecnologia Teatral (José Henrique Moraes)
Sites de Teatro (Paulo Thelmo Ribeiro) / Debate

Ao final das palestras, ocorreu um debate entre convidados e plateia com intermediação de Antonio Carlos Bernardes, presidente do CBTIJ.

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Debate

Fernando Sant’Anna: Eu sinto uma grande diferença entre uma informação que se tem em casa, quando não se tem confronto com a sociedade. Ou seja, ao ler uma carta, ao assistir a TV, ou ainda quando se liga um computador e fica navegando, desbravando várias informações sozinho, daquela informação que se tem quando se confronta com um outro ser humano ao ir para rua comprar pão ou quando se vai a um espetáculo de teatro. Neste caso há um confronto, quer seja com aquele outro ser humano que está em cima do palco, ou com aquele que está indo com você ver alguma coisa, um comício, etc.

Esse ato de estar junto de alguém, ou de assistir a pessoa que faz o teatro e que está contando aquela história, diferentemente de fazer um pedido pela Internet de um Cd, ao invés de ir até a loja e comprar este Cd, e ainda ganhar de troco um amigo. Não que se vá fazer obrigatoriamente amizade com o vendedor, mas se vai ver aquele homem, vai haver um tipo de relação, haverá um confronto com ele. Por vários motivos, porque ele é um pouco diferente ou até por ser um pouco igual a nós mesmos. Se traz para casa essa imagem daquela outra pessoa ao passo que quando se pede um Cd pela Internet ele vem pelo correio. Apenas pegamos na caixa de correios e não vemos ninguém.

Falo isso de uma forma bem caricata. Gostaria de saber e não sei bem para quem perguntar, acho que qualquer um dos três pode responder. A questão é: O que vocês pensam a respeito da Internet e a TV, que eu encaro como sendo as duas mídias solitárias, porque no caso da TV, mesmo que estejamos junto de alguém estamos sozinho. A Internet então é mais solitária ainda. É impressionante como o computador é uma ferramenta que comporta apenas uma cadeira e um “mouse”. É muito engraçado quanto se tem uma casa na qual existe apenas um computador e muitos moradores. Quando aparece algo interessante na tela, as outras pessoas ficam meio que dependuradas sobre aquela pessoa que está sentada ao micro, ou seja, elas não estão nada confortáveis e a tendência é que elas saiam dali e fique só uma, ou ainda, se forem crianças, que briguem.

Se for um “note book” então piora pelo fato da tela ser de cristal e não permitir à pessoa ao lado ver alguma coisa. Então eu queria que vocês falassem sobre a necessidade do ser humano, que é um animal que vive em comunidade, no confronto físico com os outros seres humanos, gostaria de saber como isso é possível com essas duas tecnologias de mídia que é a TV e a Internet.

Eu, particularmente, acho que esse é o grande mérito do teatro, do cinema e outros, porque você encontra pessoas quando vai à estes lugares. No teatro você encontra gente em cima do palco e se quiser pode olhar essa pessoa de vários ângulos. Podemos até duvidar de que ela possa fazer determinada coisa em cena. Já o cinema tem alguns efeitos que transformam aquela pessoa em uma superpessoa, que talvez nunca veremos na vida de tão perfeita, linda e maravilhosa que ela se mostra. Algumas voam, algumas crescem e viram monstros e por aí afora. Gostaria de saber se o confronto com o ser humano, como ele é, diferente de nós, certo ou errado. Daquele que está próximo ou que fala a mesma língua, se isso está dentro do plano dessas duas mídias?

Alice Koenow: Se está no plano eu não sei, mas realmente existe uma diferença. Não ia me estender, mas creio que essa questão do virtual e do real é basicamente uma questão da experiência. O computador não dá experiência, ele fornece informação. O máximo que uma pessoa vai fazer é mexer o “mouse” e navegar por aí. É a experiência de mexer na máquina mas não a experiência em si.

Se entrarmos num “site” por exemplo, para visitar as pirâmides do Egito, acredito que o fato maior vai ser o de imaginar como se tivesse dentro daquela realidade virtual em 3D. Estou falando de imaginação, porque se estiver lá realmente vai sentir o calor, vai sentir uma série de coisas que vão ativar a percepção. Essa experiência vai permitir o conhecimento, o que não acontece em relação à informação.

Em primeiro lugar, para alguém selecionar a informação dentro de um computador deve ter contexto. Se uma criança ainda não tem idade suficiente, embora ela tenha desejos e vontades, ela ainda não terá orientação para provocar o seu saber baseado nos “sites” que visita, quer dizer, se não for bem orientada apenas vivenciará um lado lúdico e não o lado onde possa usufruir muito bem desse saber.

A questão da imaginação é importantíssima para construção do conhecimento e esse lado da experiência é o que em geral provoca a maior possibilidade do ativamento da imaginação, que pode provocar a construção do conhecimento e a construção do saber. Creio que esse é um dos aspectos.

A questão do contato é que acredito, no primeiro momento pode assustar. Para nós que fazemos teatro essa quantidade de tecnologia e tal, pode ser até que em determinado momento possa refrear um pouco e tirar o público, mas eu penso que o espaço das cenas, as artes cênicas, o congraçamento, o ritual, tende aumentar. Esse espaço será muito mais valorizado num futuro próximo por conta da dificuldade justamente de locais e de espaços que as pessoas vão ter.

A dificuldade pessoal dessa relação em si, dessa relação e de espaços de entrosamento e para o congraçamento geral, para a troca, o espaço do real. Acredito que daqui a algum tempo um professor real, por exemplo, deve custar bem mais caro do que um professor de hoje. Acho que isso vai haver, em algum momento, uma reversão porque em geral as coisas acontecem pelos seus opostos e depois entram num equilíbrio.

Augusto Bonequeiro: Em cima dessa questão, quando estive no Museu do Louvre, passei o dia inteiro andando e isso é nada. Pois se tratando deste museu, teria que passar um mês. Eu não ficaria um mês em Paris, tinha pouco tempo, então eu passei apenas um dia lá dentro. Em casa quando eu acessei via Internet o Museu do Louvre, eu consegui entender, captar e tirar muito mais informação. Eu vi e aprofundei via Internet determinadas informações: um quadro, uma escultura, de como foi parar no museu, enfim

Acho que é mais ou menos isso. Uma criança vai à escola, por exemplo, e o professor fala qualquer assunto e ao final da aula ele sugere a todos que quem quiser saber mais pode pesquisar num “site”. A Internet tem que ser vista por esse aspecto, pela informação. Ali nós temos condições de esmiuçar determinada coisa, esse é um exemplo prático que eu tirei nessa visita que fiz ao Louvre.

Zé Henrique: Eu queria acrescentar que esse raciocínio na verdade é errôneo. Levantou-se uma questão que se supõe nova, e não é. Quando alguém resolveu que a mitologia grega não era suficientemente contada pela poesia épica, e que precisava de uma nova forma muito mais eficiente como meio de comunicação que era a poesia dramática, que era a encenação, deixou-se de contar e passaram a mostrar.

Então eles inventaram o teatro contando as mesmas histórias que estavam lá na Ilíada de Homero, só que agora mostradas. Então, em duas horas uma pessoa ficava sabendo de uma história que levaria dez horas para ler na obra de Homero. Essa pessoa viu a história de Agamênon e ficou conhecendo, ao ser invadida por vários canais, pela visão, audição, pelo olfato por todos os sentidos. Ela foi tomada por aquela história. Ela teve muito mais concentração de informação. Foi o mesmo passo, isto é, a mesma coisa, mas isso não invalida a forma anterior. A Ilíada de Homero não desaparece porque surgiu uma nova maneira de informar a mitologia.

Fernando Santana: Quando eu formulei a pergunta, era para saber como é que essas duas mídias podem, e se elas atuam nesse campo. Nunca tive nenhum receio de que uma arte mata a outra. Isso não existe nesse campo, o campo de interação. Inclusive esse é um termo de computador, interagir, e acho que existe muito mais fora do computador.

Zé Henrique: O teatro é naturalmente interativo muito antes da informática. Há dois mil e quinhentos anos que o teatro é interativo, e só agora a Rede Globo, com o programa “Você Decide”, vem achar que é interatividade. E isso é uma burrice porque é de má qualidade dramatúrgica…

Fernando Sant’Anna: Quero saber se o computador é realmente uma boa ferramenta de informação ou ele é mais do que isso…

Zé Henrique: Ele á mais do que isso. Se essa sua loja de discos da esquina ficou mais distante porque você compra pela “Internet”, a loja de discos de Londres ficou mais próxima porque você compra pela “Internet”. O espaço de contato pessoal que você está valorizando, que é o chamado “ao vivo”, é fundamental.

Se esse mesmo espaço de contato pessoal parece estar desaparecendo, por outro lado o seu espaço de contato humano está ampliado. Por exemplo: se o Augusto tivesse feito o contrário, ido ao Louvre virtual e depois ao real, a experiência dele real, que é claro que é muito mais prazerosa do que a virtual, teria sido ainda mais rica. Não teria sido substituída jamais, mas teria sido muito mais rica porque o Louvre ficou mais perto dele. Claro que não tão perto a ponto de substituir o estar no Louvre, isso é evidente.

Então olhe que espaço o teatro ganhou para se fazer. Mostrei ainda a pouco aquele programa e de como eu posso mandar uma peça para meu amigo no Japão. Antes eu podia mandar um cartão postal, uma canção talvez, uma fita. Faço uma canção para você, gravo e mando a fita. Só que agora eu posso mandar uma peça, que é a minha forma de expressão. Eu sou diretor de teatro, então a minha expressão artística não é uma poesia, não é uma carta, não é uma pintura, não é um desenho. A minha expressão é uma peça e veja que estou enviando ela por inteiro, com luz, com atores, com tudo. Então se ganhou o espaço. Agora, o contato pessoal, claro, vai ser sempre maior e quando acontece é intenso.

Voltando a questão daqueles congressos que eu fui, eu pergunto: por quê existe uma “Fenasoft”? O pessoal ligado à informática não é tão “conectado”? Por que eles têm que um dia ir a São Paulo no Anhembi para se encontrar? Porque não tem substituição possível para o contato pessoal com uma pessoa. E vem aumentando o número desses congressos, convenções, etc.

Não estou nem falando em arte, estou falando em negócios. Do ramo das telecomunicações, no qual, quanto mais querem comunicação mais gente se conhece e mais gente tem necessidade de saber quem é que está do outro lado da linha.

Ofeliano de Almeida: Eu sou desenhista de história em quadrinhos e é uma forma virtual de expressão. É um simulacro como todos esses meios que vamos criando. Eu não havia me informatizado, a não ser a um mês quando eu decidi comprar um computador e fazer as coisas nele. Não quero mais sair do computador. As minhas tintas estão se estragando e a minha prancheta eu nem sei mais onde está. Bom, essa empolgação é inicial, mas a questão é a seguinte: me preocupou especialmente um comentário do professor José Henrique e estou precisando que ele me explique melhor.

Mas antes, eu quero fazer um comentário. Como a minha vida inteira foi em função de história em quadrinhos, me lembrei agora de uma coisa que eu acho muito engraçada. O Alex Raymond, que é o criador do “Flash Gordon”, acreditava que um desenhista de historia em quadrinhos, que é o que eu e a maioria fazemos: escrevemos, desenhamos, pintamos, às vezes até publicamos a história; seria o diretor da peça, o cenógrafo, o figurinista, o iluminador, o roteirista, tudo. Ele teria todos esses talentos num só. Há uns 45 anos faço história em quadrinho e entendo isso da seguinte maneira: evidentemente que o personagem que eu criei em texto e que depois concebi em figura, atua ao longo dos quadrinhos das páginas, não é em hipótese nenhuma a mesma coisa que um ator verdadeiro. Ele é um simulacro. Então no plano virtual o Alex está com toda razão, se você assim entender. O que não pode é pensar que um desenhista de quadrinhos é um iluminador, roteirista, cenógrafo, ator, tudo ao mesmo tempo. Nós simulamos isso e alguns autores de quadrinhos simulam bem demais. Tem quadrinhos que são muito melhores que muita peça. Acho que tudo que a gente faz termina sendo analógico, é o virtual representando de alguma forma, expectativas ou tentando recontar fatos reais, sonhos, mitos, essa coisa toda.

Quando o José Henrique comentou que o meio digital deixa de ser artístico porque não é analógico eu me perdi. Realmente não consegui me situar porque a minha arte sempre foi virtual, sempre foi história em quadrinhos. Sempre considerei todas as técnicas de pintura para fazer quadrinhos: aquarelas, guache, óleo, o que eu quiser. Agora estou fazendo no computador e não percebi nenhuma mudança. É até muito engraçado. Lembro-me de uma palestra em que eu falava “story board”, que também faço, um colega desenhista que é radicalmente contra o uso do computador, dizia que a arte tem que ser feita a mão, para ser arte.

Quando me passaram o microfone eu disse que o computador também é feito a mão e é isso que eu acho do computador e também do que a gente faz no computador.

Zé Henrique: Você não está errado. Talvez ele também não esteja. A impossibilidade de uma arte digital se dá pelo fato de que o fenômeno da arte, que é uma forma de comunicação, o fenômeno da comunicação artística se dá por metáfora. Ele se dá por uma bela comparação, uma analogia. Não se dá pela informação factual, mas pela informação simbólica. Quando você faz suas histórias em quadrinhos a informação que você nos dá é de uma sequencia de ações passadas entre personagens. O que é um personagem? É uma coleção de ações reunidas sob o mesmo rótulo. O personagem Asterix é um conjunto de ações. Mas para que nós percebamos essa ideia é preciso de um suporte material. Se esse suporte é o seu desenho ou um ator não faz diferença, você continua fazendo uma analogia. O trabalho do ator consiste apenas em desempenhar uma série de movimentos e sons que sugerem ao espectador a ideia “personagem”. Entendemos essa ideia porque vemos uma série de movimentos e sons, articulados. Não estou diminuindo o trabalho do ator, entendam, ele é muito mais complicado. E assim como você tem o trabalho de traduzir essas ideias numa forma que eu possa apreender, ou seja, se você ficar me explicando o que você queria do seu personagem vai ser muito chato, então desenha que é melhor. Não faz diferença qual ferramenta você usa. Quando você largou o lápis HB pela aquarela não mudou nada. Quando você largou a aquarela pelo computador não muda nada no processo. Não precisa fazer à mão, isso é tolice. A mesma tolice a que me referia ainda há pouco quando falei do teatro que tem que ser pobre, não pode ter refletor, não pode ter nada. Vai se fazer tudo com tocha. Que se faça com tocha, mas faça tocha direito.

No “Galharufa”, tem como fazer tocha direito. Certa vez estava num espetáculo em que havia tochas. Um ator virou a tocha, isso em uma praça, fez um movimento daqueles que achou muito “simbólico” e a cabeça da tocha voou na minha cara. Não sei até hoje como eu tive tempo de abaixar para que ela não me atingisse. Quer dizer, foi mal feita, alguém errou, uma tocha porcaria. Aquilo não é coisa que se faça. Então não faz diferença fazer no computador ou com aquarela. Faz diferença como processo. Tem uma mudança sim, tem uma mudança forte que você ainda não percebeu é que o tempo de obtenção de um produto aparentemente bonitinho.

No computador o processo é muito mais curto. Qualquer pessoa pode fazer o que quiser rapidamente em um computador. Mexe, mistura, faz uma bola, um quadrado, junta tudo e faz uma coisa. Imprime com impressora a jato de tinta. E fica muito legal. Não precisa ter uma mão boa para fazer uma coisa aceitável. Mas o seu tempo não é esse. O tempo do computador é fazer uma coisa aceitável é rapidinho. Se você largar totalmente a sua munheca, que é o “timing”, a mão é a extensão do seu raciocínio da sua criação. Então ela tem o tempo da sua analogia, o computador não tem, ele é um idiota rápido como eu falei. Você consegue um resultado rapidinho e aquele “copy / paste” fica muito sedutor, mas se você não voltar para suas aquarelas, seus pincéis, você corre o risco de perder a sua originalidade e começa a entrar num processo digital.

Você não é digital; você é analógico: tudo que você aprendeu na vida foi por analogia. Então volte à sua aquarela para que seu trabalho no computador fique muito melhor e use muito o computador para que seu trabalho na aquarela seja ainda mais divulgado e produzido com muito mais eficiência. É isso que posso dizer.

Ângela Escudeiro: A pergunta que eu sinto vontade de fazer a você é: não mudou nada? E qual foi o processo da sua alma humana, da sua alma artística de você como artista, o que mudou em você? Porque eu acho que a arte é um prazer, é você botar a mão na massa, mexer com a tinta, escolher as cores, sentir o cheiro. Acho que isso é muito importante para criação de um artista. Então me deu vontade de perguntar, você não notou nenhuma diferença em seu trabalho? E em você mesmo? No fazer, no prazer, na sua criação?

Zé Henrique: Os programas do tipo “Corel Draw”, essas coisas de pintura, não sei qual você usa, são tão bons porque foram criados por pessoas que conhecem as aquarelas. Quando os programas são feitos só por informatas, são péssimos, não funcionam. Mas tem um trabalho de equipe. Criar um “software” é um trabalho de cão. Tem o pessoal que efetivamente produz aquela criação que é o objetivo do programa e tem a equipe das pessoas que usam aquele programa regularmente. Nessa equipe do “Corel Draw” existem os desenhistas, pintores, que disseram o quê que um programa de computador precisava ter pra ser um programa de pintar.

Ofeliano de Almeida: Esses programa evoluem e são apenas uma outra forma de você fazer o que você fazia de qualquer outra maneira, realmente a única diferença é que há quarenta e cinco anos eu viro noites pintando e desenhando, e nunca tive tendinite por causa disso. Em um mês usando o computador eu já senti os efeitos da futura tendinite. Mas é a única diferença. Os pintores que a gente gosta tanto de olhar, impressionistas, ou seja, quaisquer outros do século passado, eles na velhice morreram ou sofreram de artroses, artrites e intoxicações por pigmentos, por chumbo, por diversos minerais, alcaloides contidos nas tintas, por respirar, ter contato na pelo com as tintas. Eles sofreram terrivelmente, ficaram tortos sem poder mais ser artistas, então a tendinite é apenas outra consequência.

Zé Henrique: Você deve acrescentar a obesidade. Trabalho com computador dá obesidade também.

Ofeliano de Almeida: Eu realmente falo com tranquilidade porque eu faço, entende, eu não sou só consumidor ou idealista a respeito. Eu faço, meto a mão na massa. A questão da rapidez eu atribuo muito ao seguinte: o computador não é apenas uma ferramenta, isso é só parte da verdade, o computador é um assistente que executa tarefas por você, ele é mais rápido. Ele tanto é um assistente que às vezes você tem que entender o que ele está querendo, o que ele está fazendo, porque ele está fazendo, às vezes, não exatamente o que você mandou. Você pode mandar, mas ele tem um método de cumprir a ordem, então nós corremos atrás de tentar entender qual é o método dele, que evidentemente é o método construído por outras pessoas. O processo continua sendo humano. Prefiro muitas vezes vencer o computador no muque do que entrar em certas empresas. O processo humano ali é muito pior do que o computador. As relações humanas ali às vezes são muito piores.

Talvez eu venha discordar da Alice quando diz que o computador só te dá informação não te dá experiência. Então ler um livro da literatura tão elogiada como uma das experiências mais completas porque te faz imaginar tudo, desde que eu me entendo por gente escuto essa afirmação: a literatura é fantástica para o ser humano, porque te faz imaginar tudo. Você lendo um livro do personagem Conan, sei que é um péssimo exemplo, mas vou usar o Conan. O seu Conan não é o mesmo que eu imaginei. A literatura só tem informação, se os programas de computador só lhe dão informações é porque ele tem o seu valor.

Augusto Bonequeiro: A respeito dos “sites” sobre teatro, e eu sou o que se pode chamar de rato de “sites”. Corro atrás, especificamente sobre bonecos, é a minha tara pessoal. 90% dos “sites” sobre bonecos que conheço, russos, americanos, alemães, italianos, argentinos, são um “book” do trabalho de determinado artista ou de determinado grupo que nos mostra as sinopses dos espetáculos que já montaram. Fotos, agenda de grupo, locais onde se apresentaram, locais onde vão se apresentar, e endereço para contatos. 10% Trabalham dentro da técnica. Explicam como fazer um boneco, como fazer uma marionete, enfim, mas são poucos.

Eu tenho um “site” pessoal e também temos outro coletivo do nosso trabalho na Internet e são informativos sobre nosso trabalho para um mundo dos bonecos. E tem os “sites” mortos, que você falou ainda há pouco. Como você encara? Depende do objetivo da pessoa, se ela quer fazer bonecos, aí é uma coisa, ou se ela quer mostrar ao mundo, aos internautas, aos bonequeiros do mundo inteiro o trabalho que ela fez e que faz, onde está o morto e onde está vivo?

Thelmo Ribeiro: Primeiramente vem o objetivo do “site”. O quê que você quer, se você pretende mostrar o seu boneco, como você faz, que tipo de boneco você faz, isso é uma coisa estática. Então não está morto porque esta é a proposta que você tem a mostrar, o que é o seu boneco, o que você faz e o que você vai fazer. Se você me diz que todo mês vai me mostrar um boneco novo eu vou voltar lá e todo mês eu quero um boneco novo. Se não tiver um boneco novo o “site” está morto.

A agenda é o mesmo caso, se você faz espetáculos, aí você coloca uma agenda lá pra mim. Você está no Rio de Janeiro só que eu estou em Belo Horizonte, aí você tem lá uma agenda na qual eu fico sabendo que você foi para Recife. Posso voltar ao “site” para saber o dia em que você vai à Belo Horizonte ou para saber se no dia em que eu for à São Paulo você estará em São Paulo, porque eu me interessei pelo seu boneco. Só que aí quando eu olho a sua agenda, ela parou lá em 1998. Então é um “site” que eventualmente pode me interessar. Ele vai me interessar só porque eu gostei do seu boneco. Seu “site” está bem feito, eu gostei do visual, da elaboração, a informação está adequada pra mim só que quando for olhar sua agenda, eu desisto, aí eu não volto mais no “site”. Voltar pra quê?

Eventualmente, se eu gostar muito do seu trabalho eu vou entrar em contado com você por “e-mail”, isso se você já tiver deixado lá. E você terá que me responder, porque senão, não é lógico. Muita gente não responde, então isso é que é um “site” morto. Digamos que eu tenha gostado muito do seu “site”, mas sua agenda está toda atrasada, eu resolvo mandar um “e-mail”, só que não tem resposta, isso é um “site” morto, abandonado, jogado.

Eventualmente você tenha feito esse “site” ontem, você o colocou ontem no ar. Se você não der uma resposta, o internauta que em princípio é solitário sim, só que ele interage. O internauta age e decide o que quer na hora que quer, o que é diferente da TV, do cinema, é uma outra linguagem. Então ele decide navegar. Ele entra no “site”, olha a “home page”, e se ele gostou vai entrando, vai navegando, desbravando o site. Mas se ele não gostou ele para, e pronto. Então ele sempre está atuando e quando ele atua aí ele começa a participar com a pessoa, é a hora que ele manda o “e-mail”. Talvez você mande um “e-mail”, então essa parte da relação humana tem a ver com a relação do “site”, com o propósito dele.

O que se quer para um “site”? Então você decide o que você quer. Você faz seu “site”, escolhe um profissional pra fazer um desenho adequado que atenda sua necessidade e, a partir daí, é um trabalho insano pra você também manter seu “site”. Consiste em fazer um acompanhamento dele. Você terá que atualizá-lo, você vai ter que responder às pessoas que vão entrar em contato com você porque internauta é realmente muito solitário e odeia ficar sem resposta.

Augusto Bonequeiro: Um “site'” pode também não estar morto, ele pode estar em coma. Veja bem, os “sites” japoneses e alguns alemães, dentre outros, são muito comerciais. Falam sobre a técnica de um certo boneco e se você quiser saber mais alguma coisa, aprofundar-se, que eu acho o grande lance da internet, você tem que pagar. Tem que comprar a informação, eles dão em doses homeopáticas. Principalmente quando a gente é artista e esta se relacionando com outro artista, sente-se isto. Eu estava trocando “e-mail” com um ventríloquo australiano que também escrevia em espanhol, e aí eu mandei pra ele uns roteiros de apresentação. Ele mandou-me um muito fajuto e disse que mandaria outros por U$ 20 cada roteiro. Aí eu pensei. Parei e refleti sobre a internet. O meu “site” não é comercial, não tem essa finalidade. Se a pessoa quiser saber sobre meu trabalho, sobre mamulengo, com se faz um boneco, essa informação eu dou como já dei aos montes.

Zé Henrique: E se quiser que você faça um espetáculo na casa dele, você cobra? Porque esse é o seu negócio. O seu negócio é fazer teatro de bonecos e não vender pela “Internet”.

Thelmo Ribeiro: Ele é artista, ele faz espetáculo

Zé Henrique: Mas ele percebeu que a “Internet” é um meio de divulgar também a venda do seu produto. São visões diferentes. A “Internet” não é um serviço público, alguns querem disponibilizar informação outros querem disponibilizar o acesso à informação. A possibilidade de obter informação. Eu não posso botar uma peça de Nelson Rodrigues na “Internet” porque estarei violando o direito do autor. Mas posso botar uma outra de Martins Pena, que é de domínio público. Na “Internet”, na TV, no rádio, num livro, eu posso fazer uma edição completa das obras do Martins Pena e ganhar um dinheirão. Ninguém poderá reclamar, mas no caso de uma obra de Nelson Rodrigues, a família dele pode.

Bernardes: Você não pode colocar uma obra do Nelson Rodrigues porque a família comercializa e obviamente quer viver disso. Entretanto muitos autores que escrevem para o CBTIJ e querem colocar o seu texto, e ainda é uma dificuldade que nós vamos resolver em breve, mas por enquanto ainda está em estudo, é que nós não temos como viabilizar a divulgação desses textos. Nós pretendemos fazer um banco de peças. O “site” do CBTIJ está passando por uma reformulação e em breve deve se tornar um banco de dados. Estamos em contato com a Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo e temos mais de 400 textos já digitados de autores que autorizam a veiculação de suas obras. É claro que se alguém for montar um deles terá que pedir autorização para o autor ou a SBAT, como qualquer pessoa. Mas pelo menos esses textos, para crianças e jovens, estarão disponíveis, e isso é que é o fato mais importante da “Internet”: a democratização da informação.

No “site” do CBTIJ, que eu digo que não é um “site ôba-ôba”, tem até uma página de espetáculos que podem ser vendidos para escolas. Existe a relação de nossos associados e dos repertórios dos grupos e que podem ser vendidos. Lá estão todas as informações: tem foto do espetáculo, a sinopse, os prêmios que o espetáculo ganhou, a ficha técnica, críticas, quando houver, tudo enfim.

Temos ainda uma página que são os destaques, onde entrevistamos artistas que trabalham com teatro para crianças e jovens, e a cada espetáculo que a pessoa montou remete a uma foto do espetáculo, ao programa com todas as informações. Em um texto, por exemplo, a Márcia Frederico, que faz teatro medieval para crianças e jovens, colocou nos programas todas as informações de teatro medieval, e elas estão no “site”.

Estas informações que ao longo do tempo se perdem, porque você pega um programa de um espetáculo, lê e acaba jogando fora, ou então você teria que pesquisar, o que nem sempre é encontrado nos arquivos das instituições responsáveis. Sabemos, por exemplo, que durante o governo do Collor, criou-se um vazio enorme em termos de documentação. Essas informações, que estamos resgatando, estão no “site”.

Se alguém quiser saber alguma coisa a respeito de Illo Krugli, informações de todas as peças e o Ilo vão estar lá com fotos dos cartazes, dos programas, dos convites. Todos os prêmios teatrais que tem no Brasil estão lá também, e isso aí não é nenhuma homenagem à Coca Cola, à Sharp ou ao Mambembe, que desapareceram. O prêmio em si não é nada. Mas é importante para quem ganhou o prêmio, saber que tem o seu nome lá lembrado, os indicados, os vencedores. Ou seja, se alguém quer pesquisar alguma coisa sobre teatro para crianças, vai lá no “site” do CBTIJ, que vai encontrar. E se não encontrar agora, certamente num futuro próximo encontrará. Essa democratização da informação é o lado mais importante da “Internet”.

Silvia Monte: Gostaria de falar sobre a questão de como você utiliza o instrumento. Saber utilizar o instrumento porque todo mundo, me parece que já é consenso, afirma que o “site” na “Internet” é um veículo para informação, para comunicação. Mas como você comunica? Então se o “site” é de teatro, será que a melhor forma de comunicar é você mandar um texto? Lógico que esse texto vai ser recebido muito mais rapidez ao local que você esta mandando e então você tem essa vantagem, mas será que não existe uma outra forma de você usar um “site” e teatro sem ser dessa forma? O Zé Henrique falou ainda a pouco, quando mostrou aquele programa em que era possível fazer uma montagem, entre aspas, de um teatro no qual utilizava luz, os atores, a marcação de cena. Se eu montar um “site” em que a pessoa possa copiar um programa desses e receber. E se essa pessoa fizer a sua criação ela estará entendendo muito mais do mecanismo teatral do que se lesse apenas um texto, porque ali existe a interatividade, a pessoa que recebe pode fazer a sua cena.

Eu me lembrei de uma entrevista no Jô Soares de um autor literário que eu não me lembro quem é, em que ele criou um “site” do processo da criação da escrita dele, o que é fantástico, porque é muito mais difícil, quer dizer, ele fez um “site” para todos os leitores poderem acompanhar o processo de criação de quando ele estava escrevendo. A primeira pergunta do Jô foi a seguinte: “Aí os leitores vão poder interagir?” Ele respondeu que não. Que quando começou a escrever, a historia já tinha inicio, meio e fim. Ele disse também que queria que as pessoas percebessem como era o processo criativo e seu processo técnico de escrita, porque as pessoas pensam que arte é só criatividade, que é só talento, mas arte tem muito trabalho, muita técnica. A pessoa precisa ser muito boa na técnica de escrita, ela pode errar, pode voltar atrás. Quer dizer, ele esta aproveitando num “site” o próprio recurso que o “site” dá de entrar na cabeça dele. Eu acho isso fantástico! Eu posso acompanhar o processo criativo desse autor na hora de escrever. Se ele parar de escrever eu vou ver isso porque naquele momento eu estava acompanhando ele não consegue escrever mais nada. A mesma coisa vai acontecer se ele errar, se voltar atrás e pensar que não é nada disso que ele queria escrever. Quando você falou eu me lembrei disso, e também hoje, aconteceu um fato que pode ilustrar um pouco o que você dizia, a respeito do ordenamento, de ordenar o mundo, porque somos todos muitos racionais, aristotélicas.

Hoje eu fui ao cabeleireiro cortar o cabelo e tinham duas crianças brincando, fazendo a maior algazarra no salão. Elas estavam conversando entre elas e de repente começaram a ficar incomodadas, pois queriam ser atendidas antes de mim, que estava na fila de espera. Elas estavam discutindo quem seria a primeira. Não eram irmãs eram amiguinhas que fizeram amizade ali na hora. Discutiram até que a moça chegou e falou: “Olha quem vai ser a primeira é ela – que era eu no caso, porque ela chegou antes. Depois vai ser você – que era a menorzinha bem bonitinha, pequenininha -, porque você chegou depois e por último vai ser ela porque ela chegou depois de você”. As duas prestaram a maior atenção na ordem, na classificação que a pessoa fez, e aí quando a pessoa acabou de falar a pequenina disse: “Então vocês entenderam, né ? A moça falou que vai ser por ordem.” – no que a outra emendou -” De tamanho”. Ela criou uma categoria, e todo o salão caiu abaixo. Todo mundo riu, porque a menor de todas fez uma ordenação e nem era de tamanho porque ela era a menor, então ela ia ser a segunda. Mas ela achou o máximo poder dar aquela resposta e achou que aquilo era verdade para ela.

O mundo delas está ordenado desse jeito, e ai é que entra o “Piaget” que diz que o resultado da resposta, se você só avalia o final, o processo final, você deixa de avaliar todo processo criativo. Quer dizer, todo processo que essa menina teve, ela criou uma categoria de tamanho.

Alice Koenow: O que a moça estava explicando, do que é antes e o que é depois, não tem o menor sentido para criança. Uma criança, não tem vivência.

Silvia: A criança já tem o poder de classificar e de criar um processo.

Bernardes: Gostaria de colocar uma ultima questão. Baseado no que o Zé Henrique falou, a respeito desses programas que você “monta” o teatro e envia para um amigo, já existe na “Internet” as “Web” câmeras, em que você já faz verdadeiros “shows” ou de “strip tease”, ou vendo o dia a dia, na sua casa, de uma modelo. Será que vamos ter um “Web Teatro” algum dia?

Zé Henrique: Já deve ter alguma coisa semelhante. Existem formas de dramaturgia “on line” engraçadas. Há peças em desenvolvimento, eu não conheço nenhuma no Brasil, mas há uma forma de dramaturgia “on line” que é uma combinação porque a “Internet” tem uma coisa de poder estimular através de texto, imagem ou de som, depende só da velocidade da sua conexão. Mas em pouco tempo todos vão ter uma conexão muito rápida. A tecnologia é fácil, não tem limite.

A questão não é apresentar uma peça como um vídeo, quer dizer, um vídeo pela “internet” você já manda e não tem graça nenhuma, nem “ao vivo”, porque você pode fazer pela TV. A questão é descobrir qual é a dramaturgia especifica daquele veiculo, isso é a charada. Qual é a dramaturgia especifica do rádio? É aquela que não depende de imagens. Qual a dramaturgia especifica da TV? É aquela que é voltada para um público de milhões simultaneamente. Qual é a dramaturgia especifica do cinema? E aquela que tem uma apreciação coletiva. Teatro para crianças? teatro de arena? muda só o espaço cênico. Tudo é teatro. Se mudou o espaço cênico você tem que pensar qual a nova dramaturgia. Mas há várias experiências nisso e eu nunca parei para pensar em fazer teatro pela “Internet”. O teatro vai resolver esta questão, vai inventar uma dramaturgia “on line” de alguma maneira que não sei qual é.

Bernardes: Mesmo que venha, eu espero que no próximo ano todos estejamos juntos para ver teatro ao vivo aqui, na Terceira Mostra Bom de Boneco e quem sabe até lá o Rio de Janeiro tenha um festival de teatro para crianças, um festival digno, que abranja todas as categorias: atores, bonequeiros, enfim todos que sejam interessados no teatro para criança.