Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 11.03.2016
Musical cria fábula sobre sonho das bolas de futebol
Quadras de Heliópolis abrigam peça do Grupo Arte Simples, inspirada em livro de Ricardo Azevedo
Você acredita que uma prateleira cheia de bolas de futebol abriga um mundão infinito de sonhos e ansiedades? Sim, pois cada uma daquelas bolas postas à venda deseja ser comprada por um craque que a faça feliz e famosa. Com essa ideia incrível, capaz de calar fundo nos anseios fantasiosos das crianças (e dos adultos também, seja qual for o sonho de cada um de nós), o escritor Ricardo Azevedo criou o livro O Chute Que a Bola Levou, que, por sua vez, serviu de inspiração inicial para o espetáculo A Bola – Histórias Que Rolam, do Grupo Arte Simples de Teatro.
Essa companhia teatral realiza, há sete anos, sua residência artística na região de Nova Heliópolis (distrito de Sacomã, na Zona Sul da cidade de São Paulo). Ali vive uma comunidade que respira futebol, seja nas peladas locais ou nas paixões dos torcedores pelos times paulistas. Daí para a escolha do tema do espetáculo foi apenas um passe, digo, um passo, ou melhor dizendo, foi um chute a gol. A começar pela escolha do técnico, digo, do diretor: Pedro Pires, ator, diretor, dramaturgo, cenógrafo e iluminador de outro grupo bem sucedido de São Paulo, a Cia. do Feijão, que ajudou a fundar em 1998.
Pires também atuou na dramaturgia de A Bola, ao lado dos integrantes do Grupo Arte Simples. Há, ainda, na ficha uma interventora dramatúrgica: Verônica Gentilin. Todos juntos privilegiaram histórias pessoais, relatos de infâncias, ou seja, todo tipo de afeto relacionado a brincar de bola. A direção alterna, com ritmo e segurança, cenas coletivas coreografadas e momentos solos das intérpretes, que fazem tipos variados e às vezes se valem também dos recursos do teatro narrativo. São sete atrizes que formam um time impecável: Andrea Serrano, Eugenia Cecchini, Isadora Petrin, Marcela Arce, Marilia Miyazawa, Tatiana Eivazian e Tatiana Rehder. Trata-se de um elenco entrosado, harmonioso, talentoso.
Também participam dois músicos ao vivo: Fernando Stelzer e Lucas Paiva. Aliás, a música faz toda a diferença para a adesão do público ao espetáculo. A trilha criada especialmente por Adilson Rodrigues, que também assina a direção musical, é rica, variada, animada, com letras poéticas de uma simplicidade encantadora, que ajudam a contar a história dos personagens. Uma trilha acertadíssima, que faz parte de um espetáculo completo e vitorioso – um exemplo tocante de como o teatro pode se integrar organicamente à vida de uma comunidade, sem deixar de ser atraente para todo tipo de público e, o que é melhor, sem virar uma mera contrapartida social desvinculada da arte.
Serviço
Quadra da Mina. Rua da Mina Central, 38 – Heliópolis
Sábado (12), às 16h, e domingo (13), às 11h e às 16h
Grátis. Reservar antes pelo email reserva@artesimples.com.br
ou pelo telefone 11 96848-6554.
Van gratuita saindo do metrô Sacomã