Bichos do Brasil, em cartaz no Centro de Referência do Teatro Infantil, no Teatro do Jockey: visual pleno de brasilidade


Crítica publicada no Jornal do Brasil 
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 12.03.2005

 

 

Barra

O grupo paulista Cia. Pia Fraus faz belo espetáculo com bonecos, música e dança

Em cartaz no Centro de Referência do Teatro Infantil, Teatro do Jockey, Bichos do Brasil é o espetáculo da Cia. Pia Fraus, concepção e criação de Beto Andretta e Beto Lima. Criada há mais de vinte anos, a companhia paulista já percorreu inúmeros países e agora se apresenta no Rio de Janeiro com uma montagem em que a brasilidade é o tema central.

Sem a intenção de contar uma história, Bichos do Brasil é um espetáculo de movimento, música, e manipulação de bonecos. O Objetivo é apresentar, uma a um os animais da fauna brasileira. O mais impactante são os bonecos – animais diversos, animados pelas mais variadas técnicas de manipulação que sobem ao palco ao som de música brasileira, como o frevo e o samba e coreografias de Key Sawao e Ricardo Iazzetta.

Confeccionados com uma grande variedade de elementos rústicos, que  se repetem nos figurinos, os bonecos acabam criando um visual pleno de brasilidade que, aliado à música contagiante, torna-se para crianças de todas as idades. Alguns bonecos, de proporções gigantescas, impressionam mesmo.

O Pia Fraus tem uma estética autoral, desenvolvida por Beto Lima, que assina a direção de arte. Em alguns momentos, esboça-se um tênue fio narrativo, como a das três imensas galinhas d’angola, que tomam todo o palco, que interagem entre elas e o público e colocam ovos esboçando um princípio de cena, o que também acontece com os encantadores macacos. Eles se conhecem, namoram e, por final, ressurgem cheio de filhotes – uma das seqüências mais delicadas e mais  bem manipuladas.

Durante o espetáculo, uma criança perguntava: “Sim, e depois destes bichos, o que acontece?” O teatro provoca esta necessidade de existência de um conflito.  Mas o texto ia sendo todo o tempo criado pelos pais e pelos pequenos espectadores, o que não deixa de criar um outro viés e se tornar um estímulo para uma criação conjunta e participativa.

Bem realizado, plasticamente encantador e com boas coreografias, o espetáculo, porém, por vezes, se torna lento, mesmo com a apresentação dinâmica dos atores Beto Andreatta, Viviane Porto e Adriana Telg, que manipulam, se movimentam e dançam todo o tempo A repetição da sequência – entrada, apresentação e saída dos bichos – acaba cansando a plateia. Mas a música, de Gustavo Bernardo e Marcos Boaventura, a luz de Beto Andreatta e Hugo Possolo, acabam suprindo a ausência de história e contagiando a todos.