Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 24.02.2015

Barra

Fabulosa Cia. presta homenagem à fauna brasileira

Arara, lobo-guará e tatu bola fazem a festa em Bicho Bichinho Bichão

Sabe quando tudo em um espetáculo parece ok, bem feito, bem desenvolvido, mas você sai no final com uma sensação de que ainda assim faltou alguma coisa?! Claro que sabe. Isso acontece com todos nós. Pois aconteceu comigo na semana passada ao prestigiar mais um espetáculo da Fabulosa Companhia, já muito premiada por suas duas atrações anteriores, A Linha Mágica e O Sonho de Jerônimo. Desta vez, em Bicho Bichinho Bichão, que está em cartaz no Sesc Pinheiros só por mais um dia (duas sessões no domingo), a direção geral não é de Eric Nowinski, mas de Simone Grande, do grupo Meninas do Conto e dona de um talento que muito combina com o seu sobrenome. Simone, a Grande, também assina a dramaturgia, ao lado de Daniela Schitini.

Bicho Bichinho Bichão segue pela vertente de pesquisar a chamada arte narrativa, uma escolha assumida desde o início pela Fabulosa Companhia, ou seja, a opção pela ‘contação’ de histórias no palco, pela exploração da oralidade e pela figura do ator-narrador.  Como lemos no programa da peça, o texto foi criado a partir de dois contos tradicionais: O Lobo e os Sete Cabritinhos, dos Irmãos Grimm, e O Porco do Mato e a Formiguinha, conto popular brasileiro de origem africana recolhido e adaptado por Ricardo Azevedo. Para o espetáculo, o grupo decidiu acrescentar personagens (bichos), para valorizar a fauna brasileira. Assim, além dos cabritos e da formiga, temos a arara e o tatu-bola. E o lobo mau virou lobo-guará.

O melhor do espetáculo, na minha opinião, são os bonecos, pela inovação e criatividade no design. O material utilizado é papel e papelão, nas mais diferentes gramaturas.  A arara e o tatu bola são sensacionais, com seus mecanismos de papel sanfonado colorido. A forma de manipulação fica muito rica e inusitada. Quem assina essas maravilhas é a dupla Gal Gruman e Ruth Takiya, que confeccionou também o cenário, nessa mesma linha de papelão reaproveitado – e sempre contando com a afinada parceria da diretora de arte Adriana Meirelles. A trilha sonora também é bastante cuidadosa. Renata Mattar pesquisou vários ritmos brasileiros e, para cada bicho que entra em cena, surge uma melodia diferente.

Atribuo essa sensação de que falta algo ao espetáculo à sua falta de ritmo, que emperra a narrativa muitas vezes, por conta de detalhes desnecessários, ‘gorduras’ no texto e brincadeiras de palco já muito batidas, como aquela tal fatídica pergunta “Pra onde ele foi?”, estimulando a gritaria das crianças da plateia. Não precisava disso. Atribuo também à falta de carisma do elenco escolhido. Não são atores inexperientes, todos têm boa bagagem. São eles Fernanda Raquel, Eugênio La Salvia e Flávio Rodrigues. Fico pensando que essa falta de humor e simpatia, talvez seja menos responsabilidade deles e mais da forma como foram dirigidos.  Fernanda Raquel é a melhor dos três (embora seja uma atriz substituta, pois a titular do papel, Erika Moura, não pôde comparecer no domingo passado). Mas os dois atores interpretam de forma um pouco ‘pesada’ e dura, sem nos cativar nem com graça, nem com leveza, nem com sensibilidade. São interpretações apenas corretas, que não deixam suas marcas pessoais. O lobo, por exemplo, feito por Flávio Rodrigues, não acrescenta absolutamente nada a tantos e tantos lobos que a gente já viu pelos palcos do teatro infantil. Ao contrário, deixa um ranço muito incômodo de dejá vu, com um pé quase no amadorismo. Pena. A Fabulosa Companhia pode mais do que isso. Desta vez, acertou em muita coisa, mas não realizou um espetáculo ‘redondo’ como foram os dois anteriores.

Serviço

Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195
Tel. 11 3095-9400
Domingo (22), em duas sessões: 15h e 17h
Ingressos a R$ 17,00 (inteira) e R$ 8,50 (meia)
Último dia