Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 10.05.2018

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Wendy assume a frente, mas falta ritmo nesta adaptação de Peter Pan

Cia. Linhas Aéreas, com direção de Bruno Rudolf, exibe suas acrobacias de sempre, mas desta vez perde o controle da fábula, ralentando o espetáculo, que tem sua única força no texto adaptado pelas atrizes

Sempre admirei a forma harmoniosa como a Cia. Linhas Aéreas utiliza as acrobacias aéreas em seus espetáculos, com ritmo, integração com a dramaturgia, a serviço da fábula a ser contada. Por isso minha expectativa era enorme ao sentar na plateia de Wendy e Peter, peça que justamente está comemorando as duas décadas de carreira dessa trupe. Mas desta vez…

Não que não seja uma boa atração. Vale a pena prestigiar – e mais adiante explico por quê. Mas o tempo que se ‘perde’ (não sei se é a melhor palavra) no sobe e desce das duas atrizes pela enorme estrutura de ferro de 4 metros de altura é algo constrangedor e muito cansativo, prejudicando demais o ritmo. Há minutos intermináveis de pura exibição das atrizes-acrobatas, interrompendo a ação para lembrar ao público que se trata de um grupo de acrobacias aéreas. Pena. Pois não são duas atrizes que dominam completamente essa técnica. Elas não fazem números de nos tirar o fôlego, de fazer a plateia vibrar, suspirar e bater palmas em cena aberta. Nota-se o tempo todo o esforço das duas, o ritmo ralentado, o vaivém inútil dos corpos no ar, as coreografias estendidas demais. Uma se ajeita aqui, a outra se joga ali, uma corda para cá, outra corda para lá, ufa, que cansativo…

E pior: desta vez a trilha sonora de forma nenhuma ajuda o espetáculo. Há tempos eu não via (ouvia) uma trilha tão desassociada do que se passa no palco. Trata-se de um instrumental sem vida, chapado, que não dá brilho e intensidade às cenas, uma trilha sem viço (a cargo de Muepetmo). Não bastasse isso e ainda há uma tal luta de Shen She Chuen Kung-Fu, em que o personagem de Peter Pan (Patrícia Rizzi) se apoia, exibindo movimentos de serpente. A meu ver, não funciona. Só emperra mais o espetáculo, virando uma luta despropositada e com a mesma trilha sem criatividade.

O que, para mim, faz valer a pena ver Wendy e Peter (já está no último fim de semana desta sua primeira temporada) é o texto – muito bem adaptado do clássico de J.M. Barrie pelas duas atrizes-intérpretes-criadoras, Patricia Rizzi e Ziza Brisola, com a colaboração do diretor Bruno Rudolf e do convidado Marcelo Galdino. O nome de Wendy pulou pra frente, no título, já apontando que será ela a condutora da história, a narradora épica que vai desenrolar o fio da fábula aos poucos. Combina muito bem com a época atual desse novo feminismo ultra necessário, dessa onda de urgência em consolidar o dito ‘empoderamento’ da mulher na sociedade. É muito importante falar disso para as novas gerações, o protagonismo das mulheres! Felizmente, o texto não é nada panfletário nem explicitamente militante, mas passa uma mensagem subliminar muito válida nessa onda de retrocesso de conquistas que assola nosso país.

A fala inicial de Wendy (Ziza Brisola) é muito bem escrita e lindamente narrada pela atriz. “À noite, depois que as crianças pegam no sono, as mães costumam entrar na cabeça delas, para deixar tudo organizado para o dia seguinte.” Essa é a incrível e tocante ideia que faz a peça disparar história adentro. O empoderamento das mães. O afeto das mães. A presença das mães. É lindo ouvir, impossível não se emocionar. Sobretudo neste próximo fim de semana, em que vamos comemorar mais um dia delas, o Dia das Mães. (Neste sábado, dia 12/5, haverá descrição em linguagem de sinais, as libras. No domingo, dia 13, haverá audiodescrição com fones).

Serviço

Local: Teatro do Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1.000 – Belenzinho, São Paulo
Telefone: 11 2076-9700
Capacidade: 372 lugares
Quando: Sábados, domingos e feriados, às 12 horas (meio-dia)
Classificação: Livre
Indicação etária: a partir de 4 anos
Duração: 60 minutos
Ingressos: Gratuito para crianças menores de 12 anos. R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) e R$ 6,00 (Credencial do Sesc)
Temporada: De 14 de abril a 13 de maio de 2018