Hugo Posolo e Alexandre Roit encantam o público infantil

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.01.1999

Palhaçada com graça e talento

Na linha dos novos palhaços sem circo – como As Marias da Graça, Os Irmãos Brothers e o pessoal do Anônimo – os Parlapatões, Patifes e Paspalhões, em cartaz no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim como o espetáculo Bem Debaixo do seu Nariz, fazem parte da tradição circense por escolha e não por herança familiar. Nascidos fora do picadeiro, tornaram-se clowns por estudo e talento. E pelo que tem apresentado no palco e fora dele, valeu o risco dessa aventura.

Bem Debaixo do seu Nariz, é um espetáculo concebido para espaço aberto que chega muito bem à cena convencional. No palco, Hugo Possolo e Alexandre Roit compõem seus tipos baseados na escolha dos Tonys e dos Clóvis, onde o certinho versus errado ganha instantaneamente a simpatia da plateia. São diálogos ágeis e comunicativos, feitos olho- no- olho com o público, diferente da antiga escola do bufão que estava em cena para ser visto a distancia. O humor para ser apreciado, mas não compartilhado com tanta intimidade.

O roteiro de Alexandre Roit investe na palavra com alguma economia de ação. A estratégia mantém a plateia atenta e participante sem o comum exagero no apelo à gritaria que costuma se ensaiar nos ditos espetáculos de participação. Em cena os Parlapatões iniciam a função com um inusitado número musical em que um gigante e um anão tentam tocar juntos. Sem muita quebra de ação, dando unidade ao espetáculo, as cenas se sucedem em números de humor e malabarismo. A dupla de palhaços, mesmo contando com poucos adereços cênicos ou algum outro forte apelo visual nos cenários, dá conta do seu recado nesse pocket circense. Mas, para quem assistiu ao mix Shakespeare/ PPP@WIILMSHKspr.br do grupo, ocupando o horário noturno da Casa de Cultura Laura Alvim, a presença do terceiro parlapatão, Raul Barreto, é sentida.

Os novos palhaços, sem nariz vermelho ou enormes sapatos de bico, tem a ginga do circo no gestual e no humor. A intensa pesquisa em unir a linguagem do circo ao teatro é revelada no espetáculo quase que organicamente. Aquele toque dos grandes artistas que, em vez de se distanciarem do público, acabam enganando a plateia sobra à facilidade da sua arte. E, nessa arte do engano, saem ganhando palco e plateia.

Bem Debaixo do seu Nariz foi criado em 1991, em São Paulo, e suas apresentações aconteceram nos parques e praças da cidade até ganhar o palco. Os Parlapatões, que 8 anos de carreira já montaram 10 espetáculos, fazem sua estreia no Rio em dupla jornada, e, nesta cidade, uma boa palhaçada é sempre bem vinda.

Cotação: 2 estrelas (Bom)