A peça leva os contos de fadas para dentro do teatro

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.08.1994

 

 

 

 

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No tempo que existia o cinema, numa terra chamada Hollywood, a estrela Bette Davis costumava urrar com o seu diretor no set de filmagem: “Não importa que personagem eu esteja interpretando, porque na tela ele sempre será Bette Davis.” Guardadas as devidas proporções, um espetáculo Luca Rodrigues também se destaca pela marca da assinatura.

Encerrando a trilogia das belas – iniciadas em 1991 com A Bela e a Fera, seguida de A Bela Adormecida, em 1993 -, A Bela e a Pele de Asno mantém os mesmos requintes de superprodução dos espetáculos anteriores. Porém, salvo algum erro de avaliação, algo se modificou na história de amor de Bela e Azor, contada nas peças anteriores. De tema central, a saga do casal passou, no novo texto, a servir como pano de fundo para tantas aventuras, de tantos personagens, que o espetáculo acaba ganhando um ritmo cinematográfico – nem por isso pouco atraente para o espectador do teatro.

O texto de Luca Rodrigues, mais uma vez, não é uma simples adaptação de Perrault (autor original de A Pele de asno), e sim um inspirado tour pelos contos-de-fadas, de onde é retirado o melhor do inverossímil: a princesa que chora lágrimas de pérolas, água milagrosa para curar a doença do rei, madrasta perseguindo enteado, pai mandando prender o primogênito numa torre e outras amenidades, bem do agrado do público infantil.

Trabalhando com um elenco de 15 atores, Luca Rodrigues enfrenta, na direção, o obstáculo de coordenar a multiplicidade de cenas propostas pelo seu próprio texto e conduzir o enredo de modo que o tempo da ação não se perca no entendimento do público. Tarefa nada fácil, levando-se em conta a quantidade de tramas que se interligam.

Os cenários de Doris Rollemberg – a mesma dos espetáculos anteriores – seguem um alinha mais clean para esta encenação. Suas personalíssimas pontes suspensas adequaram – se perfeitamente ao ritmo ágil da ação. No entanto, a solução cênica encontrada para ilustrar o príncipe preso em sua torre demanda um excessivo esforço do ator, desproporcional ao precário efeito que provoca.

Os figurinos de Ney Madeira, em sua maioria, têm o bom gosto do artista, ficando um ou outro traje empobrecido diante do conjunto. Assim como altos e baixos acontecem nas performances do elenco. Com exceção de Paulo carvalho (o Sultão), Marcela Altberg (a Bela) e Lenita Ribeira (rainha Ino), os demais se saem melhor nas cenas de grupo, com destaque para Marco Razec, Jaqueline Sperandio e Cristina Montenegro.

Com iluminação belíssima de Renato Machado, A Bela e a Pele de asno – quase um filme – que não vai sair em vídeo. Os fãs, sejam do teatro ou do cinema, devem comparecer.

A Bela e a Pele de Asno está em cartaz no Teatro Nelson Rodrigues, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a R$ 5. Cotação:

3 estrelas (Ótimo)