Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 26.09.1993
Emoção para o despertar de um longo sono
Esqueça o que você viu no desenho animado de Walt Disney. Ainda que o fantástico filme tenha se transformado em referência para a maioria dos diretores de teatro infantil, nem só de passarinhos cantando e de príncipes valentões viva o conto clássico A Bela Adormecida. Agora no Teatro Villa-Lobos, o adaptador, diretor e ator Luca Rodrigues reapresenta sua feliz montagem da história de uma bela jovem que, enfeitiçada , espera séculos até que um príncipe liberte-a de um sono profundo. Embora tenha usado leves pitadas de referências de Disney, Luca esquivou-se de uma encenação mais simplista que o conto original pudesse sugerir.
Pesquisando e extraindo elementos de muitas histórias similares, lendas originadas na mitologia grega ou na Idade Média, o diretor fez de A Bela Adormecida um espetáculo emocionante. São elementos como a morte inesperada do primeiro príncipe Azor (o próprio Luca), um poeta que mal sabia manejar a espada ou a longa espera de dois mil anos – e não – onde vários príncipes Azor passam pela vida de Bela sem conseguir despertá-la, que se tornam o fator diferencial desta peça.
No novo elenco, que continua afinado, Susana Braga encarna sua Bela com a suavidade que o papel exige. Jaqueline Sperandio que já trabalhara com Luca em A Bela e a Fera , volta como a fada Morgana, protetora de Bela. E Cristina Montenegro continua convincente como a assustadora Malévola.
Utilizando muitos recursos de luz e sombra para mudanças de cena, a peça conta com a iluminação apurada e precisa de Renato Machado, assim como a trilha sonora assinada por Leandro Braga, recheada de acordes medievais. Complementam o espetáculo um cenário enxuto e cheio de truques (de Doris Rollemberg) e figurinos (de Jefferson Miranda) que se modificam ao longo de história, marcando a passagem dos séculos dormidos por Bela.