Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 10.10.1987
Luxo e Beleza, Numa Fantasia Movimentada e Encantadora
Novamente temos em cena o conto de fadas A Bela Adormecida, desta vez numa adaptação de Jacy Lage Júnior e direção de Celso Frateschi, no Teatro Bandeirantes, tendo à frente do elenco Myriam Rios, o que já é uma garantia de sucesso. O espetáculo tem uma encenação luxuosa e um cuidado visual que o destacam no nosso panorama de teatro para crianças, em geral feito com poucos recursos.
A história da Bela Adormecida é, juntamente com a Borralheira, uma das mais populares pelo que representa simbolicamente, o período em que a adolescente permanece em repouso preparando-se para o despertar sexual, simbolizando no fuso que espeta o dedo da princesa e faz sangrar, com o beijo do príncipe. Sendo uma história que vem da Idade Média, teve várias versões até que Perrault a formalizou em duas partes, a segunda contando o que aconteceu à princesa depois do casamento. Os Irmãos Grimm retomaram a história, abandonando a segunda parte, com o final feliz de todos os contos-de-fadas, pelo menos nas versões que nos chegaram, com o clássico “casaram e foram felizes para sempre”.
As adaptações de Jacy Lage Júnior, como a que vimos no ano passado de Aziz Bajur, segue a versão em que a princesa conhece o príncipe na floresta, um sem saber que o outro é o seu prometido, apaixonando-se antes de sofrer o ferimento da roca e adormecer. Essa versão, se torna a história mais romântica e com mais ação dramática, anula o seu caráter simbólico, do despertar da jovem para o amor. Se perde em simplismo, um dos grandes atrativos do conto, ganha em termos teatrais com o aumento de incidentes que mantêm o interesse do espectador.
O espetáculo montado por Myriam Rios, com a direção de Celso Frateschi, tem todo o caráter de superprodução. Com um grande elenco de dezessete atores, com cenários e figurinos luxuosos, devidos a um dos nossos veteranos e maiores cenógrafos, Arlindo Rodrigues, adereços de Marcio Marques Silveira, direção musical de Paulo Tatit, a musica para sintetizadores por Pedro Milliet, a encenação se apresenta como um musical cuidado que dá ao público infantil a oportunidade de assistir a um grande espetáculo.
O elenco está à altura da montagem. Myriam Rios é uma princesa Aurora bonita e que conquista imediatamente a afeição da plateia. No dia que assistimos, Lucas de Lima fazia o príncipe, substituindo o titular Rubens Caribé, que se encontrava acidentado, com força e garra. Rosana Bernardo, Cristina Ribeiro e Fernanda Marmoratto, formam um divertido trio e Lucia Barroso uma impressionante Bruxa. Todos contribuem para o resultado bom do espetáculo, apenas prejudicado pelo distanciamento dado pelas caixas acústicas, utilizados para o canto e o diálogo.