Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 04.03.1989
Mistura na medida certa
Querem ver uma peça de cabeça para baixo, mas com tudo no lugar? Parece impossível mas não é: A Bela Aborrecida está nos palcos para prová-lo. Das paródias tão em moda do modernismo para cá. Paulo César Coutinho que vem há tempos fazendo um trabalho atento ao teatro infantil, tira inspiração mas escapa dos modelitos de imnversão. Consegue, de verdade, carnavalizar o mundo clássico da fantasia: há risos para todos, grande e pequenos. Há também sustos para os pequeninos, a começar pelo sinal da sonoplastia e iluminação (Luis Alberto e Paulo César Medeiros) abusam na medida compondo o clima do espetáculo com perfeição.
A direção de Edwin Luisi e Flávio Marinho tira o melhor partido do texto, dando-lhe a movimentação que requer o “quase” musical, no palco longo e estreito do Vanucci: letras e músicas (Fafy Siqueira e Sarah Benchimol), assim como a coreografia de Acácio Gonçalves animam o ritmo da história. O duplo cenário de panos e painéis rápidos de jogo branco (bosque branco) e preto (floresta negra) e os figurinos – justamente por não surpreenderem – funcionam a contento para contrastar com o perfil mutante das personagens “gauche”: vampiro em suspiros, bela aborrecida, fada chata, lobo medroso, etc.
Mas não vamos cair na história da bruxa que queria ser boazinha, nem na da fada que quer subverter as regras: Vania Rezende (efetivamente versátil) e Fátima Valença, bruxa e fada, criaram suas personagens guardando pontos de contato com as origens, acentuando o lado cômico embutido em situações limite como o bem e o mal. Os coadjuvantes Ramiro, Lobão e Ratita (vampiro, lobinho e ratinha) conseguem manter o interesse por suas personagens,m e convincentes em seus papéis: Pedro Piazzo, Ataíde Arcoverde e Elida tem sua parte de responsabilidade na graça da cena.
Na atual temporada, Zezé Polessa substitui Cláudia Gimenez, impagável em sua criação da Bela, com alguns quilinhos a mais. Zezé procurar vestir o papel – com outra face do cômico, própria a seu tipo físico: o ar de certa ingenuidade tonta, que foi aplaudido de pé na estréia. Bom sinal depois dos tropeços com Débora Duarte e Yara Janra.
O espetáculo reserva surpresas/achados de bom humor sem se perder no didatismo fácil do universo seméticoo, onde o bom vira mau e vice-versa – aqui uma bela aborrecida só poderia ser feliz mesmo com um marido vampiro.
Se, duvida, um dos melhores espetáculos que iniciou carreira em 88.