Dib Carneiro Neto


(**) Bernardes: O que o levou à criação do prêmio Troféu Caneca Pecinha É a Vovozinha?

(*) Dib: Depois da pandemia com seu isolamento social que assolou o meio teatral, o ano de 2022 voltou com as apresentações presenciais e eu senti, no fim do ano, ao escrever o balanço retrospectivo que sempre faço (com o melhor do que vi ao longo de cada ano), pensei assim: essa brava gente que sobreviveu e conseguiu estar de volta merece uma homenagem especial desta vez, pois foi um ano muito emocionante e comovente de retomada das plateias mirins dentro dos teatros. Assim, veio a ideia de mandar fazer canecas com a logomarca do meu site Pecinha É a Vovozinha e presentear singelamente “os melhores do ano”. A repercussão foi incrível e eu me emocionei demais ao ver a receptividade tão grande ao meu simples e afetivo gesto de tributo. E desde aí já comecei a ouvir da classe teatral que eu deveria fazer sempre a entrega das canecas.

Bernardes: Como reage o público que participa dessa premiação (atores, técnicos)? Há, por exemplo, uma crítica por você selecionar tudo sozinho? Ou crítica das pessoas cujos  espetáculos você não vê?

Dib: As reações da classe são sempre muito calorosas, receptivas, entusiasmadas, comovidas. Pedem que vire um prêmio feito presencialmente no teatro, me cumprimentam muito pela resistência e iniciativa, valorizam demais o meu gesto e retribuem postando fotos das canecas, fazendo publicações muito lindas nas redes sociais. Isso muito me impulsiona e me enche de esperança. Imagino, sim, que, entre eles, deve haver um ou outro que fique ressentido por eu não ter conseguido ver seus espetáculos e que me julguem e me condenem considerando o prêmio de um jurado só. Mas isso nunca chega a mim. Se falam, falam pelas costas. O que eu sempre digo nas gravações é que “cada um que dê a importância que quiser para o troféu caneca”, pois é mesmo, de fato, a avaliação pessoal de um crítico só. Não vou deixar de fazer o que quero a esta altura de minha vida de crítico sexagenário só por medinho de possíveis haters, pois esses sempre existirão e nunca me afetarão.

Quais são as perspectivas da continuação desse prêmio, uma vez que não temos grandes premiações no cenário atual?

Dib: Recebo muitas sugestões para que vire uma festa presencial, realizada em um teatro, e prometo pensar no assunto. Faltam apoiadores, patrocinadores para um prêmio voltado exclusivamente para isso, como havia em São Paulo durante anos (Coca-Cola, Panamco, Femsa, Prêmio São Paulo). A volta disso seria muito, muito urgente. As empresas precisam voltar seus olhares para essa arte voltada para as infâncias e entender o quanto ela precisa desse incentivo, desse reconhecimento em forma de festa com troféus. Mas, no caso do meu troféu-caneca, ainda acho que ampliar sua forma de ser feito seria desvirtuar o jeito singelo e simples como nasceu. É uma caneca, um crítico, um site, reconhecendo de forma online os melhores de cada ano, apenas isso – e já é muito. Me sinto útil, ativo, resistente e orgulhoso dessa caneca do jeito que ela é. Goste quem gostar.

(*) Dib Carneiro Neto: autor e jornalista. Crítico de espetáculos teatrais e responsável pela criação do site Pecinha é a Vovozinha. http://www.pecinhaeavovozinha.com.br/

(**) Bernardes, Antonio Carlos: diretor, produtor, ator. Autor do livro A Vontade como Princípio da Ação, a história do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo. Responsável pelo site do Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude.