Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 09.07.1994

 

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Bom começo não basta

Diz a sabedoria popular que a primeira impressão é a que fica. No teatro, porém, é preciso muito mais do que um bom começo para levar uma história adiante. Batimpaz, de Enéas Lour, decola com força total, mas infelizmente perde o fôlego num tempo muito menor do que o desejável.

O texto de Lour tem como tema a guerra, sob a ótica de três crianças em suas brincadeiras de rotina. Dos diálogos ágeis da primeira cena até a perfeita transformação de duas enormes almofadas nos generais Verde e Azul, tudo se realiza dentro dos irresistíveis truques teatrais. O desenrolar da trama, porém, acaba abusando da palavra e empobrecendo a ação. O final previsível é inevitável.

A direção de Abílio Ramos tenta dar algum brilho ao texto criando situações de humor, que naturalmente não se sustentam por muito tempo. A inexistência de um tratamento teatral mais apurado dá ao espectador, em alguns momentos, a nítida impressão de estar apenas observando crianças em suas brincadeiras mais banais. Desta maneira, o envolvimento da plateia com o espetáculo acontece precariamente.

O enredo pouco atraente não dá ao elenco chance de maiores voos de interpretação. Mesmo assim, Letícia Reis é convincente no seu papel de criança, exagerando somente no sotaque mineiro para Dona da Ilha. Nilton Marques e Márcio Vinícius Bernardes não comprometem como Menino Verde e Menino Azul, na primeira metade da encenação, mas não se saem tão bem como coadjuvantes dos generais, representados por Flávio Lobo e Nádia Roveski. A inconsistência desses personagens (o general Azul e o general Verde) tira qualquer possibilidade de uma composição mais elaborada por parte dos atores que os interpretam.

Batimpaz é um espetáculo de estrutura frágil, onde se tem a louvar as boas intenções de todos os envolvidos em sua realização. Já é meio caminho andado para se rever acertos e erros, fazendo enfim com que a brincadeira proposta pelo texto contagie também o público.

Batimpaz está em cartaz no Teatro Gláucio Gill, aos sábados e domingos, às 15h. Ingressos a R$ 5,00.

Cotação: 1 estrela (Regular)