A peça, desprovida de maiores atrativos, foi encenada com muita sensibilidade

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.11.1994

 

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Uma direção irretocável

Muito antes de o cinema inventar o road movie, o estilo já havia se instalado no teatro. Mas, salvo raríssimas exceções às características atraentes na tela, não se repetem no palco.

Balbino e Bento, é um texto de Beth Araújo, sobre dois andarilhos a escalar uma montanha, onde o mais importante não é alcançar o topo, mas o caminho que se percorre. A bem intencionada trama, no entanto passa despercebida ao espectador, pela inconsistência dos diálogos e sobretudo pelo frágil perfil das personagens.

Porém, se a história se apresenta sem muitos atrativos, a direção de João Gomes consegue cercar o espetáculo de um aparato cênico irrepreensível. Seguindo até o momento uma bem sucedida carreira de cenógrafo e figurinista, João tira partido disso ao conceber um ambiente onírico para a passagem dos andarilhos. As saias superpostas que se transformam num palco para apresentação dos saltimbancos é um achado.

Ressaltando os cenários de bandeiras transparentes, a iluminação de Djalma Amaral, cria diferentes desenhos de luz e cais consagrados como Hair ou Evita – onde as músicas são geralmente acusadas de só fazerem sentido dentro do espetáculo, mas acabam ganhando o gosto popular -, Monique Aragão cria canções bastante eficientes que contribuem beneficamente para o solo dos atores. Mais interessante ainda são seus arranjos para músicas de cenas de conjuntos, onde mistura hits de Carmen Miranda ao balanço da bossa nova num perfeito casamento.

Tentando compor seus personagens, Antonio Carlosouza (Balbino) e Orlando Leal (Bento), conseguem tempos diferentes de interpretação, que muito pouco contribuem para o entendimento da ação. Em performances distintas, embora executadas de maneira convincente, o peso dramático de Carlosouza, e o humor natural de Orlando Leal, são forças antagônicas em cena.

Balbino e Bento é uma produção de efeitos, feita com o maior respeito pelo público, não só pelo aparato técnico, mas pela extrema sensibilidade.

Cotação: 2 estrelas (Bom)