Crítica publicada em Jornal não Identificado (Teatro Infantil)
Por Regina Teixeira – Rio de Janeiro – Agosto 1990

Babalu – Apostando na criatividade

Babalu… as Crianças Recebem um Presente para “compensar” a Volta as Aulas

Depois da temporada do ano passado no Teatro Candido Mendes – Ipanema, com a peça Os Segredos de Cocachim, a autora Denise Crispun volta ao cenário carioca com o espetáculo Babalu – que conta a história de dois irmãos, Miguel e Maria, ignorados pelos pais e que passam a ser educados por uma babá, interpretada pela atriz Guida Vianna. A direção é de Carina Cooper.

“A peça foi escrita não apenas para o público infantil, mas também para os pais. seria interessante ver luz na plateia sem filhos para que percebam como a ausência deles é sentida pelas crianças”, explica autora, que a 6 anos se dedica ao teatro infantil.

No início do ano, Denise representou o Brasil no IX congresso Mundial para o teatro da infância e juventude realizado na Finlândia e Suécia.

“Participei de palestras nas quais falei sobre o teatro que é feito no Brasil”, conta ela. “Tive um esclarecimento melhor de tudo que vem sendo produzido por outros países neste setor”, explica.

Foi nesta viagem ao exterior que Denise se inspirou para escrever, em sua passagem por Roma, a história de Babalu. “Mandei de lá o roteiro para a Diretora”.

O texto de Denise Crispun é uma proposta criativa e ousada de fazer teatro Infantil. Ela coloca em cena, por exemplo, dois personagens, Miguel e Maria, interpretados pelo ator Felipe Martins, que fez recentemente a novela Top Model, no papel de Jacaré, e pela atriz Bel Kutner, que também está no elenco da peça Os Bufões.

Os dois praticamente não aparecem durante os 45 minutos de duração do espetáculo, reservando uma surpresa para o final. “Não sei que espécie de teatro é esse, mas sentia necessidade de fazer algo novo”, declara. Babalu mantem diálogos com as crianças da plateia, que participam diretamente da história.

A babá é uma espécie de “anjo da guarda” que abre os caminhos para pôr fim a insegurança e o medo de Miguel e Maria. “As crianças têm uma capacidade especial de enfrentar qualquer perigo, se acreditam na história que é contada”, diz Denise.

Babalu chega no momento que é necessário e vai embora quando sente que os dois estão mais preparados para enfrentar o mundo. Nosso objetivo é que haja uma identificação das crianças presentes com esses dois personagens” explica.

Durante toda peça Babalu conta histórias com estilos diferentes: Numa brinca com o mistério; noutra, ela conta a historinha de um cachorro chamado Gabriel, que fala de sentimentos que todo mundo tem. Mais adiante ela mistura personagens de quadrinhos com a história da própria peça. “Nós usamos uma variedade de estilos para dar dinamismo”, esclarece Carina, diretora da peça.

Os cenários de Babalu foram substituídos por slides – um recurso que contribui para prender a atenção do público.

Segundo a diretora, a peça reserva muitas surpresas: “Tem uma cena bem interessante na história, quando Babalu oferece xarope ás crianças da plateia”. O xarope, explica a babá para Miguel e Maria, cura tudo. Dor de ouvido, barriga, joelho ralado, impaciência, mal humor…

A autora está confiante na receptividade do público. “A ideia de escrever Babalu partiu das experiencias que tivemos em 89 com Os Segredos de Cocachim. Falamos sobre a criança de uma maneira mais madura. A reação dos pais foi positiva, o que nos levou a pensar em encenar uma peça no estilo de Babalu. Procuro fazer no teatro com que as palavras acordem e percam seu peso de ensinar” diz.

Para a diretora Carina Cooper, a falta de crítica especializada em teatro infantil no país mostra a falta de seriedade com que é tratado o assunto. “Temos nesse mercado pessoas que têm interesse pela qualidade dos trabalhos e outras que fazem teatro infantil porque acreditam que seja mais fácil. Querem simplesmente aparecer”.

“Acho que a ausência de críticos contribui para alimentar esse tipo de coisa” completa Denise.

Babalu estreia dia 25 deste mês, ás 17h, no Teatro Candido Mendes – Ipanema.