Avoar com o grupo Pasárgada: teatralização de velhas cantigas. Foto Luciana de Francesco

Crítica publicada no jornal Folha de São Paulo
Por Robson Camargo – São Paulo – 10.05.1985

Barra

Viagem à procura da Felicidade

Avoar é um roteiro musical. A partir de uma pesquisa de cem músicas do folclore de várias partes do País foram escolhidas cerca de 25, para formar o texto final. Cantigas simples, muitas esquecidas, foram sendo teatralizadas através de jogos e brincadeiras infantis. “Vaca Amarela”, “Como está Fica”, “Língua do Pé” e outras, foram utilizadas para narrar a viagem de oito atores e dois músicos dentro da cidade grande. Entre prédios, eles partem em busca de uma palmeira, de uma lua e das canções.

O texto escrito em 1981 – poderia ser apenas um painel de músicas e brincadeiras para entreter as crianças e seus pais. Não é. Na procura das emoções perdidas, remexe o cenário de uma cidade cinzenta. É uma luta atrás de elementos esquecidos que poderiam embalar a alegria e o prazer de nossas relações pessoais, remete, sob outra ótica, à temática do espetáculo do grupo (Filme Triste, 1984) buscando no passado sensibilização da vida presente.

O diretor e autor Vladimir Capella partiu das canções para montar o texto. Nesta proposta interessante foi auxiliado pelo firme trabalho de Marcos Arthur, o diretor musical, e pelas belas vozes do elenco. Cena a cena vemos a transformação de um cenário de escadas imponentes em barcos viajantes. O entusiasmado elenco, capitaneado pelo seu diretor, trabalha um profundo clima musical, atravessado a todo momento pelo precioso violino de Patrícia Casadei e pelo violão de Gustavo Kurlat.

O grupo Pasárgada e seu diretor buscam novos caminhos, com várias e premiadas montagens – Panos e Lendas (1978), Forrobodó (1979) – partem para teatralizar canções e buscar novas imagens, conseguindo bons resultados. Duas cenas muito gostosas são apresentadas: a da Velha Papuda – um grande boneco que diverte as crianças – e a do “Como está fica” um jogo dramático muito bem realizado por Ana Maria de Souza e o elenco.

Outras poucas cenas estão por encontrar o caminho da solução cênica. A apresentação tem que ficar mais leve e solta. Ela, por alguns momentos, se perde na sequência de jogos e canções. Mas o Pasárgada não tem medo da linguagem e certamente acertará os detalhes em suas próximas apresentações.

É uma história que mistura alegrias e tristezas. A procura da felicidade numa cidade cinzenta, numa integração entre vários atores, músicos e cenários que leva o público a rir e a chorar

O crítico Robson Camargo assistiu a esta peça a convite da produção do espetáculo.