Em Avoar, uma sucessão de jogos, sem uma estrutura dramática convencional.

Crítica publica no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 09.01.1985

Barra

Avoar, um espetáculo alegre. Feito com entusiasmo.

O Grupo Pasárgada, formado em 1970, já foi responsável por alguns bons espetáculos infanto-juvenis, entre os quais o premiado Com Panos e Lendas. Depois de um pequeno interstício, volta agora com Avoar, no Centro Cultural São Paulo, passando o mês de junho no Teatro Bixiga, e julho e agosto no Teatro Eugênio Kusnet.
O texto é de Vladimir Capella, autor não somente de Com Panos e Lendas como do excelente Como a Lua (atualmente encenado no Rio de Janeiro), também premiado. Em Avoar, Vladimir Capella retoma a forma de espetáculo composta de uma sucessão de jogos, sem uma estrutura dramática no sentido convencional, com música, canto e dança. O autor já está definindo um estilo, fazendo um aproveitamento de rodas e jogos, especialmente infantis. É uma  das formas de aproveitamento do folclore, no seu melhor sentido, da cultura espontânea.

Em Avoar temos rodas, principalmente as que se utilizam de música, temos jogos, determina, uma rápida identificação do público com o espetáculo. Se não há um desenvolvimento dramático estruturado em torno de um conflito, o interesse é mantido pelo reconhecimento (ou nostalgia, no caso dos adultos) da vivência cotidiana, dramatizada e representada pela encenação.
Para esse tipo de texto, o espetáculo deve adotar um tratamento do espaço cênico, flexível, que permita as mudanças de cenografia sem necessidade de recorrer a equipamento técnico, de que nossos teatros são carentes.

A solução dada foi manter o palco vazio, sem mesmo uma rotunda, com os elementos móveis e adaptáveis, acrescidos de acessórios, movimentados pelos próprios atores. A cenografia de Valnice Vieira jogou com várias escadas de pedreiros – e nos lembramos do tempo em que a escada de pedreiro, em cena, dava azar – alguns elementos de pano dependurados e barricas de onde são retirados, como se fossem baús mágicos, vários acessórios. A solução dinamizou o espetáculo, bem como permitiu as modificações dos figurinos simples, também de Valnice Vieira, acrescentando-se véus e outros elementos.

Outro elemento importante do espetáculo é a utilização da música ao vivo, com Gustavo Kurlati no violão e Patrícia Casadei no violino, instrumento raro no teatro infantil. Mas todo o elenco se utiliza de instrumentos de percussão, além de cantar expressivamente. Aliás, o conjunto de intérpretes, quatro atores e quatro atrizes, entra no jogo com garra e entusiasmo, realizando a concepção do autor-diretor Vladimir Capella.